segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Jóias raras em embalagens de papelão






Há problemas que são universais e, definitivamente não são exclusivos do Brasil. Mas aqui a coisa é pior que no chamado “mundo civilizado”.As grandes gravadoras não possuem interesse de relançar em CD grandes obras por questões de mercado (leia-se, grande volume de vendas que mantenham uma saudável margem de lucros e ainda compensem a maldita pirataria). De vez em quando aparece algo surpreendente. A excelente e heróica gravadora TRAMA lançou pelo selo ELDORADO duas preciosidades que ainda não haviam sido convertidas (oficialmente) do vinil para o CD. Trata-se o disco “PRIMEIRO DISCO” do lendário cantor, diretor, arranjador e músico THEO DE BARROS)”.

Este carioca filho do compositor alagoano Teófilo de Barros Filho compôs sua primeira canção ainda na adolescência e com 19 anos já tinha duas músicas interpretadas por Alaíde Costa, "Natureza" e "Igrejinha". Somente em 1980, 15 anos após enorme sucesso das músicas "Menino das Laranjas" e “Disparada” (esta última em parceria com Geraldo Vandré) nas vozes de Elis Regina e do sambista Jair Rodrigues, respectivamente, é que Theo gravou seu primeiro LP, o álbum duplo PRIMEIRO DISCO.
O disco, consistente e extremamente bem arranjado, traz pérolas com a interpretação particular de Theo para “Disparada” e “Menino das Laranjas” além de incursões instrumentais beirando a perfeição como “Estória” que o compositor assina em parceria com Paulo César Pinheiro. Theo mostra, com grande mestria, seu lado romântico em “Ando te Amando Tanto” também em parceria com Paulo César.
O segundo disco ora lançado pela TRAMA-ELDORADO foi igualmente editado pela primeira vez em CD cuja data do lançamento em vinil coincide com o disco do Theo, 1980; trata-se do trabalho do músico Pernambucano HERALDO DO MONTE, cujo título leva seu nome e coincidentemente é o seu primeiro disco solo.

Heraldo iniciou sua carreira profissional em Recife, acompanhando cantores em boates. Ainda nos anos 60, teve trabalhos seus gravados por artistas como Walter Wanderley e Dolores Duran. Fez parte, ao lado de Airto Moreira e Theo, do Trio Novo, ao qual Hermeto Pascoal viria a se juntar, formando o Quarteto Novo, com o qual gravou, em 1967, o LP "Quarteto Novo", lançado pela Odeon. Virtuose da viola caipira, cavaquinho, violão e guitarra, foi um dos responsáveis pela introdução da
Improvisação (típica do jazz americano) na Música Popular Brasileira. Esta levada é bastante latente na faixa que abre o disco “Forrozin”. O disco conta com a participação, entre outros, de Dominguinhos e Hermeto Paschoal este último com vocais, órgão e flauta. Heraldo ainda paga um tributo ao mestre Pixinguinha com a belíssima faixa “Lamentos” que o chorão fez em parceria com Vinicius de Moraes. Os elementos nordestinos estão pressente no frevo “Chuva Morna” e na magistral releitura de “Pau de Arara” de autoria de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes.
Os dois lançamentos da TRAMA-ELDORADO são jóias da nossa MPB. Contudo, como disse no início deste texto, as coisas no Brasil, em relação a nossa memória. Enquanto os lançamentos de grandes nomes da musica internacional são lançados no exterior (em especial na Europa e Ásia) com requintes e consideração, os discos de Theo e Heraldo são de uma pauperrísse assustadora. Começa pele encarte. O disco do Theo sequer tem referências aos músicos e demais profissionais que participam do trabalho; esta referência existe no disco do Heraldo porque na capa traseira do LP haviam estas referências e como o material foi copiado na íntegra pelo menos se sabe quais foram os músicos que participaram do disco. Salvam-se os textos dos jornalistas e pesquisadores Eduardo Magossi e Wilson Meneses da Hora. Mas o pior não está nos encartes.
Não tenho notícia de uma qualidade de áudio tão ruim quanto a que está presente nestes trabalhos.
Não sei o que houve, mas a impressão que dá é que se está ouvindo um disco de vinil arranhado em uma daquelas antigas vitrolinhas a pilha com o autofalante furado. Mérito à parte pela recuperação destes dois discos maravilhosos, os mesmos não mereciam um acabamento (áudio e gráfico) tão aquém da grandiosidade e importância destas duas obras. São verdadeiras jóias envolvidas não em estojos dignas do seu valor, mas em verdadeiras caixas de papelão de terceira qualidade.

Post enviado por Antonio Inácio dos Santos Júnior.

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