domingo, 20 de dezembro de 2009

Zeca Zines deseja a todos um Feliz Natal




Procurando uma forma de presentear os leitores deste modesto, porém sincero blog, escolhi este texto da escritora Natércia Pontes a qual admiro.
Natércia, além de seus dotes mais que comprovados nas artes literárias, é filha do grande filósofo e compositor cearense Augusto Pontes.
____________________________________

O Presente de Paulo

Natércia Pontes especial para O POVO19 Dez 2009 - 17h49min

Paulo já havia me dito não gostar de presentes. E não importa se são de Natal ou aniversário. Um presente para Paulo sempre se converterá em tormenta. A lógica dele é bastante simples: uma vez recebidos os presentes, ele estaria obrigatoriamente incumbido de retribuir a graça para cada donatário.
E mesmo que Paulo não seja muito adepto à gastança, o motivo do incômodo não está ligado aos bolsos, mas ao medo de errar. Paulo cultiva o perfeccionismo como planta. Nobre, conciliador, companheiro.
Colhe os frutos de sua probidade na profissão, nas relações com os amigos e a família. Todos o têm com valorosa estima. Daí parte o seu peculiar ponto de vista: a inutilidade de presentear alguém.

Presentes, para ele, são sucedâneos de sentimentos nobres. Neste sentindo, um presente para Paulo perde a significação: "Por que materializar o afeto se ele é tão claro?".
Além do que, a possibilidade de errar o gosto, o cheiro, a cor, o número etc. lhe provoca ondas turvas de preocupação.
Uma vez errou com a própria mãe. Por impulso, ou uma culpa exótica, que jamais lhe ocorrera, comprou uma sandália dois números maior que o pé dela. Era seu aniversário, e ela, que sempre fora tão dedicada e companheira, jamais havia recebido mais que um abraço do filho — além, claro, da gratidão e do respeito irrestritos.
Neste dia, surpreendido pela chuva, Paulo alojou-se debaixo de uma marquise e foi atingido pelo brilho da sandália dourada, exposta na vitrine que alarmava promoção em balões de cartolina. O ímpeto foi tão fulminante que sequer pensou no tamanho dos pés da mãe, apontou a sandália à vendedora, pagou à vista e pediu para embalar.
Sentiu-se extremamente desconfortável ao entregar a caixa prateada a ela, que, emocionada, abriu com os dedos trêmulos o presente do filho. Ao bater os olhos nas sandálias, a mãe já havia percebido que não eram do seu número. Sorriu tímida e guardou-as na caixa, sem jeito.
Paulo insistiu que ela as calçasse, para assegurar se caíam bem, se eram confortáveis. Quando a mãe vestiu o par, e ele viu sobrar dois dedos de solado, Paulo se frustrou tanto que mal pôde encará-la: ``Como pude errar o número da minha própria mãe?!``. Para contornar o mal-estar, ela disse que voltaria à loja e trocaria por outras. Aí a lembrança solapou Paulo de vez: a vendedora explicava não ser permitida a troca, as sandálias estavam na promoção.

***

Numa quarta-feira de dezembro, jantávamos yakisoba. O macarrão escapava da minha boca quando toquei o assunto ``festas de fim de ano``. Brinquei, tentando adivinhar o que ele me daria de Natal. Um colar de pedras caras? Um perfume francês? Uma câmera digital?
Paulo enviesou os olhos e disse que não me daria nada. Justificou sardônico que ele em si já era um baita de um presente. Ri e concordei.
Eu sou do tipo que gosta de dar presentes. E mesmo sabendo que Paulo não retribuiria o meu, planejei um mimo para ele: Comprei uma caixa vermelha e nela guardaria pequenos quadros de fotografias da família: O pai de calção e óculos de sol na Praia do Futuro. A mãe de saia florida lavando o cachorro no tanque. A irmã mais nova sentada num pico de duna. O primo de cabelos cacheados dedilhando um violão. O avô encimado num jipe. Os pais recém-casados de braços dados no calçadão. A família reunida na varanda da casa de praia. E o Paulo abraçando o irmão de camisas listradas.

Aí meu celular tocou. A moça da loja de molduras avisou que as fotos não ficariam prontas tão cedo. Uma chuva parou a cidade e causou um enorme contratempo nas entregas. O material da moldura só estaria disponível depois do Natal.
Aí o Natal chegou. Sorrindo, depois da ceia, expliquei a Paulo o fracasso do meu plano e entreguei-lhe caixa vermelha vazia — amarrada com fita. Paulo abriu e, com a visão da caixa oca, não ficou surpreso. Disse que não importava; os quadros eram só fantasmas impressos dentro de uma moldura. Paulo já os tinha em vida.
.
.
.
NATÉRCIA PONTES é cearense e mora em São Paulo. É autora do livro Az Mulerez (edição do autor, 2004) e organizadora da coletânea Semana (Hedra, 2007). Contribuiu para algumas publicações e escreve no blog natercia.blogspot.com.




sábado, 28 de novembro de 2009

Viva Paulinho da Viola



Homenagem no programa Som Brasil a este grande mestre da Música Brasileira

“As pessoas dizem que sou tímido, mas eu gosto muito é de ouvir, e nunca quis aparecer como artista. Nunca me senti cantor, mas tenho a preocupação de usar o canto para revelar o meu trabalho, minha composição. E o samba, como toda arte e cultura, tem a sua dinâmica própria. Não pode ficar parado no tempo”, afirma Paulinho da Viola, homenageado de ‘Som Brasil’ no dia 27 de novembro de 2009

Foi o Rio que passou em minha vida




Coração leviano




Só o tempo



Onde a dor não tem razão




Bebadosamba


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nosfell Sladinji the grinning tree (des mots de minuit)


Exposição Massafeira Livre - 30 Anos

Está acontecendo no Campus da UECE - Universidade Estadual do Ceará a Exposição Massafeira 30 Anos.
Coordenação: Michel Platini Fernandes, Diretor Técnico do Museu da Imagem e do Som do Ceará – MIS-CE
Realização: Alunos do Curso “Museu, Patrimônio Cidade” realizado pelo Departamento de História da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Local: Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Campus do Itaperi
Data: 16 a 20 de Novembro de 2009
Horário de visitação: 16h às 20h
Com palestras, esposição e exibição de vídeos e documentários, display de cartazes, capas, fotos, matérias de jornais, etc., e shows com novas bandas cearenses cantando o repertório do disco Massafeira e suas próprias composições.
VALE DAR UMA CONFERIDA -
Iniciou dia 16 novembro com uma mesa de abertura com a participação de Wagner Castro, Ana Léa Bastos e Pedro Rogério, que pesquisaram sobre os músicos cearenses e os movimentos musicais dos anos 1970 e 1980 no Ceará.
Ainda tem dois dias pra quem queira visitar, o público que já compareceu desde a abertura, atesta que está bastante interessante.

domingo, 15 de novembro de 2009

Fagner x Caetano: A Luta do Século

Nota de Zeca Zines:

Central da Música, foi um dos primeiros sites de sucesso criado em abril / 2000 por Diego Sana, (Vitória / ES), com seções inteiras de entrevistas, artigos, matérias, resenhas e colunas sobre música, com vários colaboradores de todo o Brasil. O CDM terminou no início de 2004, mas deixou uma grande quantidade de conteúdo sobre música e foi premiado por duas vezes pelo iBest.
Em homenagem aos seus criadores e colaboradores, Zeca Zines pinça uma das matérias realizada pelo colaborador Ednaldo Calahani e indica a seguir o link onde vocês podem encontrar uma parte das matérias regatadas por seu criador Diego Sana.

_______________________________________________________________

Fagner x Caetano: A Luta do Século


Texto publicado originalmente na Central da Musica

Por Ednaldo Calahani em 11/5/2003 – 11:23:28


A rivalidade mais famosa da música brasileira foi entre Emilinha e Marlene. Na porta da rádio Nacional do Rio, multidões de fãs das duas cantoras trocavam insultos, e muitas vezes se engalfinhavam para decidir quem era a melhor. Só que elas, na verdade, eram bem amigas, e se divertiam com a disputa que, enfim, só fazia aumentar a popularidade de ambas.

Bem diferente foi a rinha real entre dois galos bravos da MPB, que quase chegou às vias de fato, e na qual os fãs pouco se envolveram. Retomá-la aqui tem o objetivo de refrescar-lhes a memória, ainda que com o fogo dessa contenda cujos estilhaços se fixaram no nosso inconsciente musical coletivo.

Tudo começou em 1972, Médici no governo, quando Fagner, posando de anti-João Gilberto, lançou sua primeira gravação (“Mucuripe”) no Disco de Bolso do Pasquim; curiosamente, do outro lado vinha Caetano, com “A Volta da Asa Branca”. Logo em seguida, pela antiga Philips, saiu seu primeiro LP, apadrinhado por famosos como Chico e Elis, e logo eleito “favorito do verão” pelo circuito alternativo carioca. Foi um pisão no calo dos baianos, que logo fizeram valer seu status quo na mesma gravadora, reavivando então uma rivalidade geográfica do tempo do império. Nessas, vendo-se boicotado no circo armado, Fagner foi passar uma temporada em Paris, só voltando a gravar em 1975, na Continental, o “Ave Noturna”, mais experimental ainda que o primeiro disco.

No ano seguinte, o amigo Belchior, também pela Philips, estourou com seu LP “Alucinação”, atingindo marcas de vendagem e popularidade nunca alcançados pelos baianos. Isso não foi nada, comparado com a menção explícita a Caetano nas letras: o “antigo compositor baiano”, que dera “a idéia de uma nova consciência”, e que agora estava “em casa, guardado por Deus, contando seus metais” (em “Como Nossos Pais”).

A meu ver, era como um repente, um desafio à pasmaceira e omissão política que exalava dos ex-tropicalistas, mas não foi assim que eles entenderam a coisa. Reagiram, de novo, por baixo do pano, e Belchior, mesmo com o estrondoso sucesso comercial, teve que se mudar para a WEA.

Fagner, filho de pai sírio e fiel às amizades, não se conformou com a nova puxada de tapete, e não deixou barato nas entrevistas: disse que Caetano “já era” (uma expressão comum na época), e que devia ter ficado em Londres. Caetano, cujo fraseado vocal e traços físicos também não disfarçam a quota de sangue sarraceno que lhe corre nas veias, chamou Fagner de “mau-caráter”.

O clima pesou, e Chico, amigo comum, tinha que ter cuidado em não convidá-los para a mesma festa. Bem que ele tentou jogar água na fervura, mas o racha já estava feito.

A verdade é que o Caetano pós-Londres estava “numas de deixar rolar”. Depois de fracassar com o genial “Araçá Azul”, gravou, em 1975, dois belos discos que se complementavam (“Jóia” e “Qualquer Coisa”), recebidos pela crítica com bocejos, e que também venderam pouco.

Quando emergiu o então chamado Pessoal do Ceará (Ednardo, com o Pavão Mysteriozo, de 1974, Fagner e Belchior), sua maré criativa estava em baixa.

No episódio da briga, alguns críticos tomaram o partido dos cearenses. Aí, em 1977, Caetano lançou “Bicho”, exaltando a moda “disco” que aportava no Brasil, e veio o bombardeio: em plena ditadura, que não largava a rapadura, onde já se viu louvar a alegria! Era o tempo das “patrulhas ideológicas”.

Para Caetano, polemista arguto, não foi difícil dar olé na habitual estreiteza mental da crítica. Nas entrevistas e shows desse disco e do seguinte (“Muito”), ouvimos sua voz de trovão em discursos irados. O problema é que ele aproveitou o súbito poder conquistado para uma revanche com seus desafetos.

Elis, que sempre gravou Caetano em seus discos, mas que fez coro contra o “Bicho”, nunca mais foi perdoada (vide o modo jocoso como é referida no livro “Verdade (??) Tropical”).

Fagner, por seu turno, teve que a partir daí se desdobrar para retomar seu espaço na mídia e no mercado. Ironicamente, a partir de “Noturno” (da novela global Coração Alado, em 1980), ele, cujas ambições não o faziam se contentar em ser mais um “maldito”, se tornou um grande vendedor de discos.

Caetano, mesmo estando empatado na quantidade de temas de abertura para novelas, só veio a ter um êxito comercial notável recentemente, com a pérola brega “Sozinho”, de Peninha.

Diz Rita Lee que ele sempre viveu do sucesso da butique da irmã, Betânia. Por outro lado, sua “fina estampa” lhe garante um cachê bem maior para shows.

O livro “Nada será como antes”, de Ana Maria Bahiana (editora Civilização Brasileira, 1980), traz entrevistas elucidativas, da época, com as duas partes. Na matéria de Caetano, Ana cita que chegou a considerá-lo um “deus”, na época em que ela precisava de deuses.

Também tive meu tempo de achá-los “deuses”, ele e o Fagner, agora não mais.
Só que a grande maioria dos críticos, depois da fragorosa derrota diante do “Bicho”, adotou uma postura de passividade bovina, outorgando comodamente a Caetano a incumbência de traçar, ao seu bel-prazer, a “linha evolutiva da MPB”, como ele mesmo gosta de falar.

Assim, Barão Vermelho, Djavan, Carlinhos Brown, RPM, Lenine, Marina, Chico César, Chico Science, Arnaldo Antunes, a despeito de seus méritos, só passaram a ser “bons” depois do crivo do baiano. Na outra face, ai daquele que, em qualquer época, tenha desagradado o menino de Santo Amaro da Purificação.

De Vandré a Makalé e ao maestro Júlio Medaglia, todos levaram sua alfinetada vudu.
Luiz Gonzaga, outrora referencial da Tropicália, depois que gravou dois vigorosos discos com Fagner, só mereceu citações lacônicas.
Até Gil deve ter tomado seu puxão de orelhas, depois da parceria com Belchior em “Medo de Avião n. 2” (1980). Ruy Castro, te cuida…

O que mais me incomoda nisso tudo é que o Pessoal do Ceará, um grupo tão ou mais criativo que o da Tropicália, e que inclusive levava adiante a proposta tropicalista, foi posto pra escanteio por conta dessa bravata.

Mesmo aqueles cujo som revela cristalinamente sua influência (caso de Lenine e Chico César), parecem ter vergonha de admiti-la em público.

Num especial da MTV, comandado por Gil, sobre a música de todas as regiões do Brasil, pintaram de Carla Perez a Tom Zé, outro que teve o tapete puxado por discordar do clã baiano.

Porém, assim como no site “Expresso 2222”, nenhuma vírgula de referência a Fagner, Ednardo e Belchior (sem falar nos músicos como Robertinho do Recife e Manassés), artistas que tiveram e tem sucesso comercial sem nunca abrirem mão da qualidade e da inventividade.

Faltou-lhes habilidade política para se fixarem como medalhões da MPB?
Pode ser.
Ednardo, que nunca entrou diretamente na briga, mas que acabou recebendo as balas perdidas, dá “bananas pra todo esse auê”, em “Tecer Novo Mundo”, do disco “Libertree” (1984).
Talvez sábio seja ele, ou Luiz Gonzaga, para quem “na dança do cossaco, não fica cossaco fora”.

http://www.sanainside.com/arquivos-do-central-da-musica/colunas/dr-piranha-fagner-x-caetano-a-luta-do-seculo/

_______________________________________________________________

Não faz parte da matéria acima, mas Zeca Zines insere duas músicas de Ednardo sobre o assunto, Tecer Novo Mundo gravado no disco Libertree (1984) EMI-Odeon, e Desconcerta-te gravada no disco Ednardo (1979) CBS :

Tecer Novo Mundo
Ednardo

Emergência real pra geléia geral
Tá nas raias do maracujá
E quem tomar, meu amigo
As delícias dos fruto da flora
Vai ver que a fauna se arranja
Dando até uma canja ao show bizz da tv
Bananas ao vento, já faz tanto tempo
Bananas pra todo esse auê

Desde quando alguém já falou
Pindorama país do futuro
O sistema computa, computa, computa
É mais outro tijolo no muro
Virou jaula da farra da fera
Marginália pro ano 2000

A prova dos nove da alegria
Segura a vida, agarra Luzia
Tudo o que for maravilha
E venha junto ver o nascer do dia
Noves fora um, noves fora dois, noves fora mil
O computador não segura
O meu coração tão Brasil


Desconcerta-te
Ednardo

Já foi mais, agora é menos
Mesmo que ainda queira ser muito
Esse menino caviloso fala à toa dessa alegoria
Alegre ou triste sempre vamos juntos
E você não me conhece?
Mas meu corpo e o meu verbo insiste
E resiste ao chute dos polidos sapatos
Que você disfarça em alpercatas de rabicho

Meus dedos pisados nessa violência
Sangraram nos gumes das pedras
Que você nunca sacou
Sacou, sacou?
E ainda tocam a desarmonia desse acordar
E a minha voz lampeja nas manhas
Desse poluído lar
Luminando raios, luminando raios
Que antes tarde do que que nunca
Acontece coração
Tece e trança tua teia, meu irmão
Mas desconcerta-te
Tudo garante o fácil, a falsa calmaria
Dessa atitude sadia
Longe de tudo vadia
Minha emoção
Vamos até o fim

sábado, 17 de outubro de 2009

Som Brasil - TV Globo - Ednardo, Amelinha, Belchior

Ednardo Amelinha Belchior no Som Brasil 1994 - TV Globo
Parque do Cocó - Fortaleza - Ceará.

Neste período o programa Som Brasil era gravado ao Vivo, durante mega shows em diversas cidades brasileiras e depois fazim um condensado de uma hora que era transmitido em rede nacional em horário nobre.
Neste show de Fortaleza os produtores calculam uma estimativa de 80 mil pessoas assistindo ao Vivo, o que depois se multiplicou por milhões de telespectadores.


Pavão Mysteriozo - Ednardo



Terral - Ednardo

As participações de Ednardo, Amelinha, e Belchior neste memorável show foram com várias músicas cada um, sendo que duas foram ao ar: Pavão Mysteriozo (Ednardo) com Ednardo; e Terral (Ednardo) com Ednardo convidando Amelinha e Belchior para interpretarem juntos.

Neste show participaram também várias outros artistas e bandas do Ceará, Rio Grande do Norte e da Bahia, mas a recepção do púbico a estes três artistas brasileiros nascidos no Ceará, levou o público ao delírio, momento que prestou reverência espontânea em maravilhosa coreografia popular realmente emocionante e inesquecível.

Participaram da Banda de Ednardo grandes músicos cearenses: Manassés; Cristiano Pinho, Eugênio Matos, Luiz Duarte, Carlinhos Ferreira, Nilton Fiore, Aroldo Araújo, e ainda teve a participação de componentes do maracatu cearense.

OBS - Zeca Zines notou que nos créditos de abertura do vídeo Terral com Ednardo Amelinha Belchior, registra o show no ano 2004, mas na realidade foi em 1994. Fica a ressalva.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ednardo - Cauim - Disco e Filme
















Sempre inovador, o cantor e compositor Ednardo, lança em 1978 o disco Cauim pela gravadora Warner Bros., com a característica de ser totalmente acústico, é o primeiro disco de sua geração com este formato, depois relançado no ano de 2001 em CD, no projeto do baterista dos Titãs – Charles Gavin – Warner Arquivos.

Os arranjos primorosos são de autoria de Ednardo, Pepeu Gomes e Wilson Cirino.
Os músicos convidados por Ednardo são excelentes entre eles, vindos do grupo Novos Baianos: Pepeu Gomes, Jorginho Gomes, Waldir Gomes, o paulista Ife (Luiz Carlos Franco Tolentino), o cearense Cirino, e o gaúcho Sérgio Boré, entre outros.

Com apurado trabalho gráfico, o disco original tem capa dupla, realizado por Brandão, poeta, compositor e arquiteto (Antonio José Soares Brandão), e parceiro de Ednardo em várias músicas deste disco e que também assina o design, grafismos e desenhos pinturas, com Arte Final de Ruth Freihof e fotos de Mário Luiz Thompson e Francisco Régis.

Um ano antes, entre 1977 / 1978, Ednardo realiza o filme homônimo – Cauim, em 16 mm., P / B – média metragem de 45 minutos, todo filmado em Fortaleza, com Direção, Produção e Roteiro do próprio Ednardo, lançado em 1978 junto ao disco Cauim, em várias capitais brasileiras.


Este filme projetado durante shows de lançamento de Cauim 1978, em telas formadas por redes brancas, formando um visual inusitado naqueles tempos.
Ao chegar em Brasília, o filme foi aprendido pela repressão da ditadura militar e devolvido, no final do show com várias cenas picotadas. Mas mesmo assim foi projetado no show.

O filme Cauim é um documentário / ficção, sobre Maracatu Cearense onde Ednardo evoca a formação e afirmação da etnia cearense e brasileira – Índia, Branca e Negra e também aborda a Confederação do Equador, movimento cultural / político, que ainda na época do Império desejava estabelecer a República no Nordeste Brasileiro - Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí.

Aura Edições Musicais, produtora de Ednardo, está telecinando o filme CAUIM para em 2010 lançar em DVD incluindo Making Of do filme e Entrevista com Ednardo falando sobre o processo de realização.


Neste disco CAUIM, Ednardo inclui CANÇÃO DOS VAGALUMES, música especialmente composta para peça de teatro PUTZ A MENINA QUE BUSCAVA O SOL, dirigida por Augusto Pontes, da Autora russa / brasileira Tatiana Belinky, com cidadania brasileira e residente no Brasil, que já ultrapassou a marca de 120 livros editados, nos quais se dedica a literatura infanto -juvenil com link de leituras para todas idades.

FICHA TÉCNICA DO DISCO:

Direção Artística - Marcos Mazola
Produzido por Guti Carvalho
Técnicos de Gravação - Carlos Duttweller / Vitor
Estúdio de Gravação - Transamérica - Rio de Janeiro
Mixagem - Guti Carvalho / Carlos Duttweller / Ednardo
Assistente de Produção - Gastão Lamounier
Auxiliares de Estúdio - Franco / Cláudio
Capa e Desenhos - Brandão
Foto da Capa - Mario Luiz Thompson
Foto da Contra Capa - Francisco Régis
Arte Final - Ruth Freihof

MÚSICOS

Arranjos - Ednardo / Pepeu Gomes / Wilson Cirino
Violões - Ednardo / Pepeu Gomes / Wilson Cirino
Violão Sétimo - Waldir Gomes (Novos Baianos)
Guitarra Acústica - Pepeu Gomes (Novos Baianos)
Bateria - Jorginho Gomes (Novos Baianos)
Contra Baixo - Luiz Carlos Tolentino - Ife
Baixo Tuba - Teles
Percussões - Sérgio Boré / Jorge José

Todas Músicas Editadas por - Aura Edições Musicais Ltda.
Exceto: Rasguei o teu retrato

RELAÇÃO DAS MÚSICAS DO DISCO

1. C'lareou -Ednardo
2. Meu Violão é um Cavalo - Ednardo
3. Amor de Estalo - Ednardo e Brandão
4. Duas Velas - Ednardo e Brandão
5. Rendados - Ednardo e Tânia Araújo
6. Rasguei o teu Retrato - Cândido das Neves (Índio)
7. Cauim - Ednardo
8. Bloco do Susto - Ednardo
9. É Cara de Pau - Ednardo e Brandão
10. Terezina 40 Graus - Ednardo
11. Canção dos Vagalumes - Ednardo

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Zoombido - com Ednardo e Paulinho Moska

Gravado em março de 2009, no Rio de Janeiro – Estúdio Palco, e exibido nos dias 20, 21 e 22 de Agosto pelo Canal Brasil.

Este excelente programa criado e desenvolvido por Paulinho Moska e sua Equipe, já entrevistou mais de uma centena de artistas, compositores e intérpretes brasileiros.

Em cada um deles os participantes relatam seus inícios musicais e outros momentos de sua carreira e cantam 3 músicas, além de realizarem uma música coletiva feita por 26 artistas que serve de mote à cada uma das temporadas.

Esta temporada na qual Ednardo participa com mais outros 25 artistas chama-se: “A canção não pode parar”


Parte 1.



Parte 2.


Parte 3.

domingo, 16 de agosto de 2009

Rock na Cena Cearense



A cena cearense do rock em suas diversas tendências possui mais de 350 Bandas atuantes.

Em pesquisas recentes encontramos muitos que são originais, mas em outra grande quantidade, existem os repetidores e covers.

Zeca Zines vai tentar fazer uma radiografia desse pessoal. Vamos começar com com vários clips e informações em suas entrevistas, partindo do princípio do Programa Rock Cordel, um festival anual promovido pelo Centro Cultural do BNB, mas também de várias outras cenas pertinentes a esta cena.

Montage é um dos mais de 350 grupos da cena musical cearense que faz opção pela interpretação híbrida entre o inglês e o português com vistas de desenvolver seus trabalhos no exterior.

Formado pela dupla Daniel Peixoto, Leco Jucá, e neste vídeo acompanhado por Ricardo Lisboa, o Montage surgiu em 2005 na Cidade de Fortaleza. Residindo no eixo Fortaleza - São Paulo, o Montage já viajou para se apresentar na Europa.

Neste vídeo a participação especial de Carlos Eduardo Gadelha, guitarrista da Banda Quarto das Cinzas, também de Fortaleza.

Montage

Floor! Floor! Floor!



Entrevista com Daniel Peixoto - Cantor do Montage




Cidadão Instigado - Fernando Catatau

O Pobre dos Dentes de Ouro




Cidadão Instigado - Urubú

Entrevista com Fernando Catatau

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Procura-se Belchior



Zeca Zines leu uma matéria curiosa no site Palma Louca
http://www.palmalouca.com.br/artes/artes.jsp?id_artes=600 escrito por Mariana Filgueiras e que coloca um cartaz de - Procura-se Belchior... para seu conhecimento copiamos...

________________________________

Na garupa de uma moto a caminho de Tianguá, no norte do Ceará, o primo de segundo grau Robério Belchior dá a sentença: "Belchior encerrou a carreira. Está bem de saúde, de finanças, mas decidiu não gravar mais ou fazer shows. Há mais de um ano que nem nós, da família, temos contato com ele. Só uma irmã, Ângela, que de vez em quando recebe telefonemas. Ninguém sabe nem onde mora, só que parou com tudo". Do celular, falando mais alto do que a ventania, Robério diz não fazer idéia do motivo. "Não sei se foi problema de cabeça, se cansou, sei que ninguém consegue mais contato com ele".

Belchior sumiu. Nem os amigos, parentes, fãs, ex-sócio, gravadora, nem o Google sabem o paradeiro deste que integra a lista afetiva dos maiores compositores do Brasil, autor do maior sucesso na voz de Elis Regina, "Como nossos pais" e de hits dos anos 70, como "Apenas um rapaz latino-americano", "Velha roupa colorida" e "A palo seco". Aos pedidos de shows que recebe de todo Brasil, o antigo empresário, Georges Jean, tem mandado o cantor Guilherme Arantes no lugar. "Olha, se você achar o Belchior, por favor me passe o contato, porque eu estou atrás dele há dois anos", apela Georges, pelo telefone.

Ex-sócio e amigo de longa data, o músico e escritor Jorge Mello está chateado: "Estou morrendo de saudades. Você imagina o que é trabalhar com uma pessoa na mesa ao lado por 18 anos e de repente essa pessoa sumir?". A última vez que estiveram juntos foi em 2007, em um show no Teatro José de Alencar, Fortaleza. "Acho que ele deve ter tido alguma crise de cabeça, deve estar estressado, não quer mais falar com ninguém e saiu de Campinas", arrisca Mello, referindo-se à última morada de Belchior.

Talvez tenha ido para longe. "Alguns amigos dizem que ele foi embora para a Holanda", lembra a amiga e radialista Josy Teixeira, autora de uma dissertação de mestrado sobre as letras de Belchior, que acabou virando livro. "Até 2006, mais ou menos, nós tínhamos muito contato por causa da minha tese, mas nunca mais consegui falar com ele. E eu preciso falar, porque recebi um email de uma suposta produtora proibindo um show que faríamos com músicas dele na festa de lançamento do livro. Paguei o Ecad direitinho para liberar os shows e quero saber exatamente que história foi essa". O amigo Célio Camerati, ex-sócio de Belchior no selo Camerati, conta que recebe pelo menos três ligações por semana de jornalistas e produtores de shows em busca do compositor. "Se eu tivesse qualquer pista, eu passaria, pode acreditar. É o que digo a todos".

Não fosse Tom Zé ter reconhecido o indefectível bigodão perdido na platéia de um show que fez em Brasília em março deste ano, os milhares de fãs que mantêm sites e comunidades no Orkut em busca do cantor já teriam até pensado que – toc, toc, toc – "Bel", como chamam, bateu as botas. Vestido com uma saia estampada à "calçadão de Copacabana", Tom Zé avistou o cabra, parou o show e o chamou ao palco. Meio tímido e bastante cabeludo, Belchior subiu e não fez feio. Entoou, vozeirão em dia, uma versão de "Sweet mystery of life". Tom Zé, em reverência, foi assistir da platéia.

A letra da música escolhida já dava uma pista de que Belk’s, outro apelido, não quer mais saber de festa: "Minha vida que parece muito calma/ tem segredos que eu não posso revelar...". A gritaria insandecida dos fãs obrigou-o a cantar um trechinho de "A palo seco". Nem bem terminou a primeira estrofe (que era, aliás, outra pista: "Se você vier me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava / De olhos abertos, lhe direi: amigo, eu me desesperava..."), agradeceu os aplausos e sumiu de novo. Não deu nem tempo de perguntar se tem email.

O desaparecimento de Belchior foi repentino. Desde o sucesso nos anos 70, quando foi gravado por gente do quilate de Elis Regina, Roberto Carlos, Vanusa, Jair Rodrigues, até meados dos anos 2000, o cantor fazia cerca de cem shows por ano, em todo o Brasil. Em 40 anos de carreira, lançou 15 discos. Em 1983 lançou uma gravadora própria, a Paraíso Discos, e em 1997 criou o selo Camerati, que lançou discos antológicos de José Miguel Wisnik e do Grupo Rumo. Belchior, cujo nome deve ser pronunciado como "Agenor", "Claudionor", e não como "suor" ou "Christian Dior", tinha até uma casa de cultura com seu nome, em Fortaleza, e aparecia esporadicamente em programas de TV. Uma carreira sólida, portanto.

O estilo sincero dos versos, as milhares de referências intertextuais, a voz forte (e o bigode, claro) transformaram Belchior em ídolo "cult". Em 2006, dublou o mágico Zás-Trás no desenho animado "Garoto Cósmico", com Vanessa da Matta, Raul Cortez e Arnaldo Antunes. Um doce para quem adivinhar qual música o pequeno mágico cantava. No mesmo ano, a canção "A palo seco" foi gravada pelo Los Hermanos (o que mais poderia ser mais cult em 2006?). Os também bigodudos, e barbudos, levaram Belk’s a tiracolo para seus shows. Um sucesso absoluto.

Mas o Bob Dylan tropical deu cabo de tudo. Já tinha fechado a Casa de Cultura e Arte Belchior, no ano anterior, desfez a sociedade do selo Camerati, desativou o site oficial, trocou telefones. As apresentações começaram a rarear. Alguns poucos shows no interior do país, uma aparição constrangida no Jô Soares, em 2008, com uma entrevista limitada a canjas batidas e piadinhas do apresentador (Quando Belchior canta a música "Divina comédia humana", por exemplo, no verso "Aí um analista amigo meu...", Jô emenda: "Aí um analista me comeu...").

Ao público, nenhuma novidade. Em outubro, participou de um festival de música em Canela, no Rio Grande do Sul, que muitos fãs acreditam ter sido a derradeira apresentação. Em dezembro, Belchior fez outra curiosa aparição-relâmpago na TV: durante uma reportagem do Jornal Nacional sobre o MORHAN (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), quem aparece ali, atrás da repórter? Ele mesmo, jaquetão de couro, bigodão imponente. Olha ali, apareceu de novo! Foi dar uma força à campanha em prol das vítimas de hanseníase e passou batido na notícia. Dali, sumiu mais uma vez. E o MORHAN teve de chamar outro garoto-propaganda para suas campanhas. Ficou o Ney Matogrosso. "Nós gostaríamos muito de continuar com o apoio do Belchior, mas não conseguimos mais falar com ele", comenta uma funcionária do grupo.

Os fãs criaram sites e comunidades no Orkut, onde compartilham todo filete de notícias sobre o ídolo. Uma já conta mais de 12.400 "belchianos". Fizeram até uma espécie de abaixo-assinado virtual pedindo um DVD do "Bel": "Até o Créu tem DVD!", protestam. Mas notícias do seu paradeiro, nada. Indignado com a falta de informações sobre o ídolo, André Lins, de Recife, inaugurou no último mês o site Sempre Belchior, que mantém por conta própria. André leva o hobby como uma ideologia: "Se cada fã fizer sua parte para divulgar a Música Popular Brasileira, dentro de alguns anos o nosso cenário musical será outro, e bem melhor". Se o Belks aparecer, então, melhor ainda.

Por Mariana Filgueiras, do Palma Louca, especial para o Pernambuco.com

______________________

Para ilustrar, a seguir o vídeo citado na matéria em show de Tom Zé em Brasília quando convida Belchior a participar e ele canta a versão
Sweet Mystery of Life



Belchior - "Divina Comédia Humana" - 1982



Observação de Zeca Zines - Interessante notar que o baiano Tom Zé, também vários anos esquecido por seus pares artisticos da Bahia, soube reconhecer no cearense Belchior seu devido valor e prestar um preito de gratidão e reconhecimento a este grande artista brasileiro.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Vídeos de Julia Limaverde

PRÓXIMA ESTAÇÃO





Perturbando o silêncio de sua viagem, desconvencionalizando.


Realizado no Metrô de São Paulo.



ARNALDANÇA





Realizado no show de Arnaldo Antunes em Recife.



COM TATO





Realizado durante workshop de contato improvisação do israelense Tal Avni, em São Paulo.





2012






Metáfora apocalípitica sobre como o ser humano está sufocando a terra com lixo, poluição, concreto. Um rosto que seca, um planeta que sofre com o aquecimento e mudanças climáticas. Um alarde sobre o futuro próximo.


Realizado no Rio de Janeiro.


Julia Limaverde é Cineasta, Produtora, Atriz, e nestas áreas realiza importantes trabalhos. Em sua filmografia e trabalhos, estão registrados vários momentos profissionais.


É bacharelada em Artes Cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e bacharelanda em Filosofia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ; Idealizou e produziu a Mostra do Filme Livre, que acontece anualmente desde 2002 no Centro Cultural Banco do Brasil, e está completando sua 9ª edição em 2010;

Produziu diversos curtas-metragem realizados através da WSet Produções, Ateliê da Imagem, Curta o Curta, Fundição Progresso e Centro Cultural Banco do Brasil no período de 2002 a 2005;



Produziu eventos “Festa do Filme Livre” no Plano Paralelo em 2003, o “Cortejo MFL” nas ruas do centro do Rio de Janeiro em 2004, “Curta com Samba” na Melt em 2005;

Em 2007 produziu a banda João Grilo e Cozinha Brasileira em turnê pelo Rio de Janeiro;

Produziu os documentários “Bhakti Shiatsu” em 2003, “Sentidos da Máscara” em 2008 e em 2009 está participando no projeto Livro, CD e DVD “Massafeira 30 Anos - Som Imagem Movimento Gente”, e vem desenvolvendo trabalhos de produção junto ao artista Ednardo produzindo shows e ativamente nas gravações de imagens para documentários e DVD do artista, entre os quais Shows em Fortaleza, Natal, Rio de Janeiro, e outras cidades.


Registros de sua Filmografia:


2008 - Arnaldança

2008 - Sentido da Máscara


2007 - 2012


2005 - Eliseu


2004 - Dois Argumentos Para Um Filme Verdadeiramente Livre


2004 - Nos Andaimes


2004 - Nozes


2004 - O Ovo Colorido


2004 - Triângulo


2004 - Uma Noite com Aderbal Lacerda (Seu Criado)


2003 - Viralata


2003 - Bhakti Shiatsu


2002 - Batizado


2002 - Malabares

domingo, 26 de julho de 2009

Beiramar - Ednardo - Massafeira - 30 Anos

Beiramar - Ednardo - Show Massafeira - 30 Anos

Fortaleza 29 Maio 2009 - Praça do Ferreira

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Nomes e Fotos de Participantes MASSAFEIRA



RELAÇÃO PARCIAL DE PARTICIPANTES DA MASSAFEIRA 1979 / 1980

Com informações gentilmente colocadas à disposição pela AURA EDIÇÕES MUSICAIS, pelos Artistas e Produtores da Massafeira, anos 1979 e 1980, conseguimos, após detalhada pesquisa, recompor a relação dos nomes de participantes, suas áreas de atuações, especialidades e locais de origem.

Pela lista de participantes e suas áreas de abrangência, nota-se a importância da Massafeira, para todos os participantes e público geral naquele momento em Fortaleza, na Artes, Culturas, Costumes e Músicas Brasileiras.

Possívelmente, faltam nomes, na lista (por Ordem Alfabética), ou necessidade de correções, ao reconstituir registros de evento de tal magnitude, atualizações sempre serão bem-vindas.

Solicitamos aos participantes e público, contribuir com informações, fotos, vídeos, filmes, registros, etc., completando dados.

São mais de trezentos e cinquenta nomes, das mais diversas áreas de manifestações das artes, culturas e costumes de uma grande parte do Brasil, que pela primeira vez, naquele momento, se uniram espontaneamente, e até então única, esta energia foi levada ao público, sem filtros e disponibilizadas ao acesso de todos.

http://www.ednardo.art.br/masspart.htm


FOTOS DE ALGUNS PARTICIPANTES

Fotos de vários momentos Massafeira, (preparação 1978) - Show lançamento do disco Cauim - Ednardo. Massafeira Livre, (1979) quatro dias de Shows - Teatro José de Alencar, Fortaleza.

Massafeira Livre estúdios de gravação CBS Rio de Janeiro, (junho e julho 1979).

Shows de lançamento do disco duplo Massafeira em quatro dias (outubro 1980), no Teatro José de Alencar.

Existem muitos registros de fotos realizadas por diversas pessoas que ainda não estão neste album, quem quiser contribuir para o acervo que é de todos sobre um dos maiores momentos artisticos que envolveram áreas da música, poesia, artes plásticas, cinema, literatura, teatro, artesanatos, comidas típicas, cultura popular e diversas outras formas de manisfestações, basta enviar para Zeca.Zines@gmail.com que a seguir estará no álbum.

Grande parte de fotos foram realizadas por Gentil Barreira, também participante da Massafeira.


http://picasaweb.google.com.br/Zeca.Zines/MASSAFEIRALIVRE#

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Memória Musical Cearense












Existem muitas formas de olharmos para a história da música cearense. É possível observarmos as trajetórias e produções de seus artistas, músicos, compositores, cantores, arranjadores, produtores culturais, etc. Este viés nos leva a uma análise micro-social e nos mergulha em uma diversidade riquíssima. O ângulo macro-social, por outro lado, permite perceber eventos que aparecem como marcadores, é como se fossem âncoras que nos levam a momentos que catalisam pensamentos, tendências, sonhos e se traduzem em unidade.

O Massafeira Livre que reuniu mais de uma centena de artistas nos dias 15,16, 17 e 18 de março de 1979 no Theatro José de Alencar certamente é um evento que figura em nossa história como um marco, assim como outros discos e eventos que merecem nossa atenção, por exemplo: “I Festival de Música Popular Aqui no Canto” - 1969, que gerou um disco de mesmo nome.


Este é o irmão mais velho com 40 anos de idade que já contava com a arte da capa do poeta e arquiteto Antônio José Soares Brandão, o mesmo que pintou o carneiro no cartaz de divulgação e disco do aniversariante 10 anos mais novo - o Massafeira.
Neste mesmo ano nasce um irmão gêmeo bi-vitelino, o “Soro”, um projeto coletivo iniciado em Fortaleza com Francis Vale e que agregou um grande número de artistas de vários lugares do Brasil sob o comando de Fagner.



O período 1969-1979 revela dez anos de intensa produção musical do Ceará para o Brasil e para o mundo. Alguns outros discos também nos servem de referência para compreendermos melhor esse período: o “Disco de bolso do Pasquim” editado pela revista histórica Pasquim que, em 1972, deu uma projeção muito maior para o nome de Fagner.

Pasquim era uma edição impressa produzida por jornalistas de esquerda que veiculavam as idéias consideradas de vanguarda naquele período. O objetivo era reunir um artista consagrado com um estreante, no primeiro número o “novato” era João Bosco ao lado de Tom Jobim e o segundo registrou de um lado Caetano Veloso cantando “A volta da Asa Branca” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e do outro lado do compacto Fagner cantando sua parceria com Belchior, Mucuripe.

A boa recepção que Fagner obteve com Mucuripe chegou ao conhecimento de Elis Regina que gravou a música no mesmo ano pela Phonogram. O reconhecimento ao artista cearense rendeu-lhe um contrato com a gravadora Philips em 1972, quando foi convidado para registrar mais quatro músicas em um compacto: de um lado Fim do mundo, em parceria com Fausto Nilo, e Cavalo Ferro, em parceria com Ricardo Bezerra, do outro lado Quatro graus de latitude, em parceria com Dedé Evangelista, e Amém, amém, com letra e música de Fagner.

Ainda em 1972, Ednardo, Rodger e Téti gravam pela Continental o disco Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, que tem como sub-título o nome que nos serve de referência para identificação desta geração de artistas: “Pessoal do Ceará”. Importante registrar que essa expressão não foi escolhida pelos próprios artistas, inclusive alguns preferem não utilizá-la, mas é recorrentemente evocada para identificá-los.

O fato de serem projetos coletivos não significa uma harmonia de acordes perfeitos, constituídos apenas por consonâncias. O sentido do trabalho em grupo é diametralmente oposto, pois se enriquece pela diversidade de pensamentos, posicionamentos, idéias que transbordam do mesmo caldeirão cultural. São releituras da antropofagia modernista de 1922. A harmonia musical cresce com a tensão dos acordes dissonantes, na variação dos timbres, na comunicação entre as diversas linguagens.

Hoje, continuamos em plena aprendizagem, ouvindo vozes diferentes que geram tensões que pedem o repouso da tonalidade modernista, mas os tempos pós-modernos já estão vibrando e anunciando que todos os timbres, ritmos, andamentos, percepções diversas de realidade podem e devem expressar suas melodias.

Relembremos esses marcadores de nossa história musical: I Festival de Música Popular Aqui no Canto, Massafeira Livre e Soro.

Pedro Rogério
Especial para O POVO
01 Mai 2009

PEDRO ROGÉRIO é Professor da Universidade Federal do Ceará. Pesquisador, cantor, compositor e radialista. Mestre e doutorando em Educação Brasileira pela UFC. Publicou o livro Pessoal do Ceará: habitus e campo musical na década de 1970

Imagem da capa do disco MASSAFEIRA lançado em outubro 1980

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Massafeira Livre - 30 Anos


Ednardo - Folia ou Pressa de Clésio Ferreira e Augusto Pontes.

Massafeira Livre - 30 Anos

Música: CARNEIRO Ednardo e Augusto Pontes



Cavalo Ferro - Fagner e Ricardo Bezerra - Com Ednardo Teti e Rodger Rogério

Show MASSAFEIRA 30 Anos - 29 Maio 2009 - Fortaleza - Praça do Ferreira

Massafeira Livre - Show comemorativo de 30 anos do movimento com: Ednardo, Teti, Rodger Rogério, Manassés, Régis Soares, Rogério Soares, Chico Pio, Lucio Ricardo, Calé Alencar, junto aos Músicos: Luis Miguel, Carlinhos Patriolino, Nilton Fiore, Carlinhos Ferreira, Glauco Foguinho, Rômulo Santiago, Denilson Lopes, Tony Maranhão.

Fortaleza - 29 Maio 2009 - Praça do Ferreira.

Música - Reizado de: Graco / Stélio Valle / Augusto Pontes

segunda-feira, 29 de junho de 2009

MASSAFEIRA LIVRE - ROCK.DOC



Um dos Documentários que estão sendo realizados este ano de 2009, sobre MASSAFEIRA LIVRE, este acima feito pelo SUBVERCINE com alunos do curso ROCK.DOC do Ponto de Cultura ABC Digital - Fortaleza Ceará, durante eventos comemorativos de 30 Anos do Movimento Massafeira em conjunto com o Pessoal do Ceará.

Zeca Zines aplaude com entusiasmo!


Patativa do Assaré

Recita Caboclo Roceiro e Menino de Rua



PESSOAL DO CEARÁ

VIVA Fortaleza Especial 1968 - Movimentos Culturais


domingo, 17 de maio de 2009

Homenagem a Augusto Pontes


































O Blog Zeca Zines, faz Homenagem mais que merecida ao grande filósofo, poeta, autor, publicitário e agitador cultural da cena cultural e musical cearense e brasileira - Francisco Augusto Pontes.

Autor de mais de 200 letras, apenas umas 12 músicas onde contribuiu com suas letras e genialidade, são conhecidas do público ou gravadas, entre as quais: Carneiro e Água Grande em parceria com Ednardo; Lupiscínica em parceria com Petrúcio Maia; O Lago e A Mala em parceria com Rodger Rogério; Velho Demais e Sopa de Saudade e Palmito em parceria com Zeca Bahia; e outras inéditas com um dos fundadores da Tropicália, o baiano Piti que estava residindo em Fortaleza com o qual fez a parceria Caminho do Mar.
Também realizou parceria com os compositores do grupo piauiense residente em Brasília: Climério - Pelada; E Clésio - Folia ou Pressa; e existem outras com o Clodo e também O Mundo Mudar e Pancada do Mar em parceria com Rodger Rogério.

É conhecida a história que várias de suas frases e pensamentos geniais, foram utilizadas por muitos sem o devido reconhecimento de parceria tais como na música e letra de Mucuripe, onde consta apenas como de Fagner e Belchior; e também na letra e música de Apenas um Rapaz Latino Americano, onde consta apenas a autoria de Belchior - ambas sem citarem a parceria fundamental de Augusto Pontes, quando justamente estas frases poéticas - "Vida, Vento, Vela - Leva-me Daquí"; e Eu sou apenas um rapaz, latino americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes" - foram fundamentos e esteios principais na construção destas duas músicas e letras, o LEIT-MOTIV.

Assim como estas situações, existem muitas outras.

Em homenagem a esta grande figura humana, Zeca Zines transcreve de forma condensada uma sequencia de matérias publicadas sobre Augusto Pontes, que nos deixou recentemente, para que muitos outros saibam sobre sua importância cultural tanto para o Ceará quanto para o Brasil.

_____________________________________


Paulo Linhares - Especial para o Jornal O POVO - 16 Maio 2009
Ex - Secretário de Cultura do Estado do Ceará que substituiu o então Secretário de Cultura - Augusto Pontes durante o período da gestão do Governador Ciro Gomes.


O RAPAZ LATINO AMERICANO


Augusto Pontes foi o melhor pensador contemporâneo do Ceará.
Numa época cheia de celebridades fúteis e fátuas, nada mais dúbio do que a concordância imposta a nós pela homenagem momentânea.
Principalmente aqueles que encontraram em vida uma concordância permanente com o público. Não é o caso de Augusto. O que caracterizou seu pensamento foi exatamente nunca ter se reconciliado candidamente com o mundo em que viveu.
Sua acidez, ironia e verve desconcertante o faziam um permanente desafiador de ideias feitas. Como na doutrina grega das paixões, que incluía a cólera entre as emoções agradáveis, mas situava a esperança e o medo entre os males, Augusto Pontes demolia o bom senso careta dominante no campo intelectual com uma cólera quase santa.
Em todos os momentos. Basta lembrar quando Augusto era professor da Universidade Nacional da Brasília e a burguesia estudantil, filha do poder, brincava de fazer revolução, numa assembleia estudantil.
Convidado a discursar, Augusto disse que a única coisa que eles, inconfessadamente, gostariam de reivindicar, era mais vagas no estacionamento da universidade.
A cólera de Augusto Pontes contra a ignorância bem situada era cheia de humor, e o tipo de riso atônito que provocava tentava realizar a sua reconciliação com o mundo.
Sim, mas se seu humor o ajudava a encontrar o seu lugar no mundo, não o levava a vender sua alma a ele. Era um pensamento que sempre provocava incômodo, pois jamais se reconciliava com o óbvio.
Se o seu gênio não combinava com o dos homens com o gosto acertado, ele não abandonava o sólido terreno do real. No pensamento de Augusto Pontes, a têmpera desconstrutivista se associava a uma curiosa objetividade cheia de detalhes.

O que nunca permitia que sua atitude intelectual o levasse a perder de vista a relação com o mundo e o estatuto real das coisas do mundo que ele atacava. Assim, as famosas “pontes para a comunicação” e as “pontes para a cultura”, fundamentos teóricos que ele divulgava em todo espaço público, colocavam seu pensamento longe da ideia de um indivíduo fechado.
Elas possibilitam afirmar que sem Augusto Pontes não existiria a atitude ousada e avisada que permitiu Ednardo, Belchior, Fagner, Rodger, Teti, etc., em seus melhores momentos, se transformassem em artistas muito maiores.

O texto da música Carneiro, imortalizada por Ednardo, é a mais perfeita tradução do campo cultural cearense: “Amanhã se der carneiro/vou mimbora daqui pro Rio de Janeiro. As coisas vem de lá... E vou voltar em vídeo tapes e revistas multicoloridas. Pra menina meio distraída repetir a minha voz: Que Deus salve todos nós e Deus salve todos vós”.

O impasse da vida artística digna num Estado pobre.
A centralização da indústria cultural sudestina.
A vontade humana, demasiadamente humana de conquistar plateias.
A súplica cearense por uma salvação tardia.
Tá tudo na letra Carneiro.

Com suas “Pontes para a comunicação”, Augusto nos ensinou a partir de sua cátedra real da Scala Publicidade, a melhor agência de propaganda que o Ceará já teve, que nossa propaganda poderia ter a nossa cara, sem ser piegas, autocomplacente, atrasada.

Augusto desafiou a caretice da nossa esquerdolatria ironizando as viúvas da ditadura, quando ninguém tinha coragem de fazê-lo.
Augusto desafiou a caretice universitária fazendo tremer os pilares das verdades bem conhecidas, onde quer que imponham os olhos.

Mas a crítica de Augusto nunca tomou partido em prol de uma irrascibilidade política desantenada com o mundo cearense.

Ele nunca acreditou no moralismo pequeno burguês udenista da pequena denúncia, e sempre incentivou o pensamento largo, ousado, apontando numa perspectiva capaz de nos salvar da miséria intelectual que nos livraria da miséria econômica.
Sua obsessão com a superação desta pobreza atávica intelectual e artística nunca o levou a usar nem a muleta do pauperismo, da tal cultura popular, nem a lógica coercitiva do pensamento acadêmico bem comportado.

Dizia sobre os primeiros que o mérito do cego não está no guia e para os outros criou um projeto de Escola de Comunicação - a Ecoa - que um dia será a grande base teórica para as mudanças que precisamos fazer nos cursos de comunicação.

Que Augusto tenha morrido pobre, sofrendo com os impasses duma cidade medíocre e bárbara, num dos períodos mais obscuros de sua vida urbana, só me leva a lembrar algumas frases de Hanna Arendt. “A história conhece muitos períodos de tempos sombrios, em que o âmbito público se obscureceu e o mundo se tornou tão dúbio que as pessoas deixaram de pedir qualquer coisa à política além de que mostre a devida consideração pelos seus interesses vitais e liberdade pessoal”.

Os grandes homens são raros, como as obras primas. O rapaz latino americano de sua famosa carta “sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso, sem parente importantes”.... se foi.

Mas seu pensamento vai fertilizar nossa terra, porque, parafraseando W. Benjamin, ele se manteve sempre como alguém que consegue ficar à tona num naufrágio, capaz de subir ao topo de um mastro que já desmorona.
E dali ele teve uma oportunidade de fazer sinais que nos levarão à salvação.
-
PAULO LINHARES também é publicitário e diretor de conteúdo e marketing da TV O POVO.


____________________________
AUGUSTO PONTES - O GURU AOS 70

Dalwton Moura
Diário do Nordeste - Caderno 3 - 2006


Jornalista, publicitário, compositor, ex-secretário de Cultura, Francisco Augusto Pontes chega hoje aos 70 anos.
Em entrevista ao Caderno 3, rememora passagens da infância na Fortaleza das lâmpadas pintadas de preto, em plena Segunda Guerra, dos tempos de universidade, da reunião dos que viriam a ser conhecidos como “Pessoal do Ceará”.
A publicidade na década de 70, a Massafeira Livre, os caminhos da cultura e os encontros e desencontros dos músicos cearenses - entre o sucesso nacional e o desconhecimento no próprio quintal - também entraram na prosa, bem-humorada e saborosa pelas tiradas características que fazem de Augusto um referencial para várias gerações.

Com a palavra, o guru:

Caderno 3 — Vai ter festa para essa data especial, ou você prefere ficar mais tranqüilo nessas ocasiões?

Augusto Pontes— Não, não vai ter festa não (risos)... É um dia normal. Às vezes o pessoal aparece, a gente se encontra. Mas não tem começo certo não...

— Fazendo 70 anos, que lembranças você tem da sua infância em Fortaleza? O que mais marcava na cidade, naquela época?

Augusto— Eu nasci na antiga Vila Maciel, perto da Serrinha, no caminho de Maranguape. Papai tinha lá um sítio. Acho que ainda deve ter o lugar, um nome tão simpático.
Mamãe veio pra cá, morar em Fortaleza. Sempre morei por aqui. Só morei aqui e, já bem depois, nos anos 70, por ali, em Brasília e em Teresina.
O que me lembro mais de Fortaleza naquele tempo é que a gente tinha que pintar de preto as lâmpadas incandescentes, do lado que dava para o mar, por causa do negócio da guerra.
Eu morava na praia, ali na Tenente Benévolo, e as casas usavam esse artifício. Todo mundo tinha que fazer isso.
Papai, muito habilidoso, gostava de fazer essas coisas. Lembro dos primeiros passeios na Praça do Ferreira e na Gentilândia, onde tinham os pontos de encontro, a turma do futebol. Tinha os times do Gentilândia, do Peñarol, o próprio Ceará ficava perto, o 24 de Maio, que a sede era na Marechal Deodoro. Do outro lado, o (estádio) Presidente Vargas.

— E os primeiros contatos com os livros, como se deram? Por influência da família?

Augusto— É, os primeiros contatos foram muito cedo, em casa, com meu pai, que me apresentou Machado de Assis, Monteiro Lobato, Humberto de Campos... Lembro de ter lido bastante no Seminário da Prainha, onde passei um ano só, mas também foi o suficiente.
Fiz o primário no 7 de Setembro e de lá fui pro Seminário. Passei só um ano, por incompatibilidade de gênios (risos)... Sempre fui muito à vontade, e com aquela disciplina não consegui continuar.
Mas valeu o ano que estudei lá, valeu pelo primário bem feito. Aí a gente não precisa estudar mais nunca, né? Você aprende a ler e a saber o que está lendo...

— E como foi que você descobriu a música?

Augusto— Nas serestas. Tinha muitas serestas naquele tempo, muitas. E o rádio também, os auditórios de rádio, que eu gostava de ir, a PRE-9, a Rádio Iracema... O rádio tinha um “cast” grande de cantores, músicos. As rádios tinham orquestra.
Tinha muito também as quermesses, e muitos regionais, muitos cantores. A música era muito presente na vida de Fortaleza. Tinha os trios, os grupos vocais que se formavam, os Vocalistas tropicais, Quatro Ases e um Coringa, Trio Nagô, Trio Jangadeiro, até o Trio Irakitan tinha um integrante cearense. Já os discos só vieram depois que o comércio, o “marketing” trouxe. O primeiro toca-disco em casa, lembro que foi muito tardiamente. Tinha mais era rádio, as novelas de rádio, como “Penumbra”, “Renúncia”, “O Direito de Nascer”, com trilha.

— Você trabalhou em rádio...

Augusto— É, depois do Seminário fui fazer técnica de contabilidade, e virei perito contador. Mas até hoje tenho dificuldade em fazer imposto de renda, como todo mundo (risos).
Mas eu trabalhei em rádio sim, muitos anos. Escrevia programas, fui diretor artístico da Uirapuru, da Dragão do Mar, trabalhei na Rádio Nacional de Brasília.
Por conta disso até eu fui fazer o curso de jornalismo, pra poder ter o direito de ser jornalista. Não engolia muito bem esse negócio de ser jornalista prático.

— E a publicidade, Augusto? Você trabalhou naquela que é considerada por muitos uma espécie de “época de ouro” da publicidade cearense, em que havia mais romantismo, mais charme na atividade. Era isso mesmo, ou há uma certa mitificação nisso?

Augusto— Acho que não. A década de 70 foi realmente a melhor época da publicidade aqui.
A Scala, a Mark, a Slogan, a Terraço, em todas as grandes agências eu trabalhei.
Lembro de trabalhar inclusive com o grande Gilmar de Carvalho, muito modesto, que a custo se tornou redator, porque achava que não era, apesar de ser gênio, de ser um grande escritor.

Agora, tinha mais romantismo na publicidade daquela época. Era muito mais intuitiva, muito mais artística. E tinha muitos casos curiosos também.

Lembro de um deles, em que mandaram retirar uns outdoors do óleo Pimentel, que diziam “Quem assina o que faz garante muito mais”. E o Moisés Pimentel era candidato nas eleições. O outdoor mostrava um carro de supermercado e uma lata. Era quase uma urna e um voto (risos).Tinha aqueles anúncios famosos do Bento Alves, do Macarrão Fortaleza, “Quando a comida é boa, ninguém quer largar”... Esse quase vai proibido também.

Outro, de TV, tinha uma cozinheira cantando: “É só uma pitada de sal nesse programa insosso”, e anunciando o sal Marissol. A TV queria proibir, porque mangava da própria TV. Ficaram chateados, reclamaram, e aí gentilmente, tiraram o anúncio.

Uma coisa tão inocente! Lembro que a Coelce, a Teleceará anunciavam muito nessa época.

Tinha também o sabão Pavão: ´Uma mão lava a outra com perfeição e as duas lavam tudo com Pavão´. Enfim, a publicidade era uma atividade muito romântica, era uma alegria fazer.

Eu fiz muitos textos, muitos jingles. Hoje, os publicitários se acham muito geniais.

Naquele tempo a gente saía pra beber, convivia mais.

Não sinto saudade do futuro

Caderno 3 — Não sei se isso veio a partir da publicidade, ou se foi o inverso, mas uma das suas maiores características é a facilidade para bolar “slogans”, títulos, frases. Como surgiu esse hábito?

Augusto Pontes — Eu atribuo essas coisas à proximidade com o povo, com a vida. Acho que não é nada especial meu não. Era uma característica não só minha, mas de muita gente. É uma coisa da nossa cultura.

— Mas frases clássicas como “Quando a mesa cresce, a cultura desaparece”, que se conta que você dizia quando juntava gente demais no Bar do Anísio, têm uma assinatura sua...

Augusto — É verdade... Nos coquetéis de lançamento de livro era “A cultura em álcool imersa, logo dissipa e dispersa” (risos). Essas frases sintetizam as coisas. "O sertanejo é antes de tudo um forte. Avalie no Rio Grande do Norte" (risos).

Agora, o pessoal inventa muita coisa e atribui a mim. Tem muita coisa que dizem que eu dizia, e eu nem pensei.

— E as frases usadas no meio musical, como “Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem”?

Augusto— Essa, que acabou dando título ao primeiro disco dos cearenses (o LP conhecido como “Pessoal do Ceará”, lançado em 1973 por Ednardo, Téti e Rodger Rogério), era de uma letra enorme que eu tinha, e que só musicaram algumas partes.

“Vida, vento, vela, leva-me daqui”, o final do “Mucuripe” (clássico de Fagner e Belchior). Tinha algumas frases que eram usadas pela turma, “Eu sou apenas um rapaz latino-americano”, na música do Belchior... Eu considero isso uma homenagem, não faz mal nenhum terem usado não.

Nunca pedi parceria por isso. São todos grandes amigos, é natural que um use uma frase ou outra.
Sempre digo que o plágio é um atestado de humildade.

Porque, se eu vou fazer uma canção, eu não consigo usar uma frase de outro. Agora, o nosso amigo Aldir Blanc fez uma música e chamou “Lupiscínica”, e não colocou “Lupiscínica 2”.

Aí é outra coisa. É chato, dói, porque ele inclusive grafou igualzinho. Aí fiquei chateado.

— O Rodger Rogério e o Petrúcio foram os primeiros parceiros?

Augusto— O meu primeiro parceiro foi o Rodger sim. Depois o Petrúcio. Com o Rodger fiz inicialmente “Mundo, mudar” e “A pancada do mar”. Acho que eu tinha uns 26 anos por ali. Ele entrou na universidade cedo, eu entrei tardiamente. Tinha ficado muito tempo sem estudar, abandonei ali no primeiro ano colegial. Depois voltei e fiz de tudo.— Que impulso te levou a ser compositor popular?

Augusto— Não teve nada assim... Eu achava bonitas aquelas músicas e queria fazer também. Tive a sorte de encontrar parceiros, e acho que levava jeito. Lembro de toda aquela música, do rádio, das quermesses, dos cantores.
Depois, a bossa nova foi uma grande influência pra gente. Fazer música passou a ser um interesse não só meu, mas de muita gente em Fortaleza.

— Chama a atenção a diferença de linguagem, o salto estético daquela geração. Se não eram propriamente um grupo, como muita gente faz questão de lembrar, vocês compartilhavam dessa intenção de fazer uma música diferente, moderna?

Augusto— Era, havia essa vontade. Isso vinha muito da literatura. Graciliano, Guimarães, Clarice Lispector, aquela invenção de palavras. Tanto que, como criadores de música, somos anteriores aos baianos.
Mas quando os baianos surgiram, aconteceram (fizeram sucesso), ficamos entusiasmados. Havia esse desejo de fugir daquela coisa mais antiga da canção popular. Um desejo de incluir outros sentimentos, cantar o amor, a terra e a vida misturados...

E fomos incentivados por muitas coisas, havia um movimento de criação em todo o Brasil, com o Cinema Novo, o teatro... Isso refletiu em toda a turma de cantores e compositores que se chegou entre a Universidade, a Praça do Ferreira, o TJA e o Bar do Anísio.

— Mas quando é que o ato de fazer música deixa de ser apenas essa criação mais descompromissada e passa a ser uma pretensão artística e profissional?

Augusto— Acho que desde muito cedo a gente tinha intenção. Tem a música, né: “Amanhã se der o carneiro, carneiro / Vou-me embora daqui pro Rio de Janeiro”.
Agora, quando todo mundo foi, em 74, por ali, essa parte é um pouco triste. Eu até me ausentei da composição, dei um recessozinho.
Porque tornou-se uma coisa mecânica, meio de vida. Aí tinha todos os ingredientes dos interesses.
Éramos uns 300, né, mas ficaram resolvendo as coisas só com uns três ou quatro. Aí não dava, né?
Três ou quatro eram os baianos, que agora são 300. É o contrário.

— Havia, então, muita desunião entre os integrantes do chamado “Pessoal”?

Augusto— Não sei se desunião, acho que nem hoje tem desunião não. O que houve com os cearenses foi que, antes deles ganharem dinheiro, brigaram. Brigaram, se separaram. Aí diminuiu da turma toda pra três rapazes.
Três rapazes não davam conta! Começa a pintar cachê, a vaidade de aparecer, uns se achando melhores que os outros. Qualquer canção, quando desponta, é muito bonita, toca mais que outra que ninguém conhece.
Isso é o que me salva um pouco, porque “Carneiro”, “Lupiscínica” nunca saem de moda.

— Você se ressente de não ser mais reconhecido pelo público, não ter sua obra mais visitada?

Augusto— Ao contrário: eu me acho mais conhecido do que mereço. Não me ressinto disso não. Acho que é isso mesmo. Acho que tá tudo bem, tá tudo certo.
Não tenho saudades do futuro. Fiz até uma brincadeira: digo que não tem presente, ou é passado ou é futuro.
Até na Secretaria de Cultura, usava esse eixo: passado, presente, futuro.

— Você recebeu muitas críticas na sua gestão na secretaria. Faz uma autocrítica, ou se sentiu perseguido?

Augusto— Ali, qualquer pessoa que se debruçar vai compreender. A secretaria era muito ligada a negócio de coquetel, beletrismo. Aí mudou: entrou a culinária, a música popular, o folclore, o artesanato.
Virou cultura mesmo, e a arte foi pro seu lugar de crítica da cultura.
Os meus amigos mais chegados ficaram decepcionados, um até me disse que eu desconheci os amigos. E eu explicava: “Você é meu amigo, mas não é amigo do secretário”.

Mas eu acho que valeu a pena meu sacrifício ali, minha dedicação. Eu não soube fazer direito, mas quem veio depois soube fazer.
Quando o Ciro (Gomes) me convidou, senti a responsabilidade: “Mas rapaz, secretário de cultura, eu nunca fui”. E ele: “E eu nunca fui prefeito”. Aí calou minha boca.
Eu era muito crítico, mas acho que me dei bem. Muitos compreenderam, elogiaram. Mas críticas tinha que haver, pelo rumo da cultura no País.

— E a Massafeira: seria possível algo semelhante hoje?

Augusto— A Massafeira foi um movimento que explodiu. Ninguém é autor dele. Todos participaram. Era uma explosão da vida. Era muita gente criando, muitas coisas lindas, uma vontade de fazer. Esse é outro papel que eu acho que deve caber a uma secretaria de cultura: não querer programar, e sim incentivar. Deixar que as pessoas programem. Dali saíram vários artistas, Lúcio Ricardo, Mona Gadelha, Stélio Valle, grandes nomes, mas que ficaram espremidos.

Como atualmente tem muitos intérpretes e instrumentistas incríveis no Ceará, mas a tendência é ficar só um fazendo sucesso. Agora, independente disso, com certeza poderia haver hoje em dia algo parecido com o que a Massafeira foi em 79. Só falta alguém coordenar, sem ser pra mostrar só as suas obras.
Daria pra fazer uma coisa forte nacionalmente, pra dar um sossegozinho aos baianos. Eles trabalham demais (risos).

— Pra completar, como é que você lida com esse título de “guru”? E o que o guru tem como objetivo, daqui por diante?

Augusto— Que guru, nada! Nunca ocupei esse lugar. Ao contrário: gurus são esses homens cultos do Ceará. Eu soube me aproximar deles. Mas nunca me achei guru.
Eu sempre tive foi tendência a ligar as pessoas, aproximar quem nem sonhava em se encontrar. Os amigos de hoje são os de sempre, o Rodger, o Francis (Vale, cineasta e produtor), o Fausto (Nilo, compositor), que é minha grande inveja. Eu queria ser o Fausto Nilo, quando eu crescer (risos).

Hoje, com 70 anos, moro com duas das minhas quatro filhas, e quero é viver mais. É muito bom estar vivo nesse momento, o País sendo feito, as pessoas reclamando, mas sem parar pra entender, né?
Se houver uma crise de sinceridade, aí melhora tudo. Imagina as pessoas confessando que não sabem fazer tudo, admitindo que precisam do outro. Olha que sonho! Antigamente era assim, e a gente fazia as coisas.

(DM)

sábado, 14 de março de 2009

Incoerência católica

Artigo publicado em 14 de março de 2009 no jornal Folha de São Paulo, pelo escritor e médico Dr. Drauzio Varella.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1403200923.htm

------------------------------------------------------------------------------------

Os males que a igreja causa em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos


AOS COLEGAS de Pernambuco responsáveis pelo abortamento na menina de nove anos, quero dar os parabéns. Nossa profissão foi criada para aliviar o sofrimento humano; exatamente o que vocês fizeram dentro da lei ao interromper a prenhez gemelar numa criança franzina.Apesar da ausência de qualquer gesto de solidariedade por parte de nossas associações, conselhos regionais ou federais, estou certo de que lhes presto esta homenagem em nome de milhares de colegas nossos.
Não se deixem abater, é preciso entender as normas da Igreja Católica. Seu compromisso é com a vida depois da morte. Para ela, o sofrimento é purificador: "Chorai e gemei neste vale de lágrimas, porque vosso será o reino dos céus", não é o que pregam?

É uma cosmovisão antagônica à da medicina. Nenhum de nós daria tal conselho em lugar de analgésicos para alguém com cólica renal. Nosso compromisso profissional é com a vida terrena, o deles, com a eterna. Enquanto nossos pacientes cobram resultados concretos, os fiéis que os seguem precisam antes morrer para ter o direito de fazê-lo.
Podemos acusar a Igreja Católica de inúmeros equívocos e de crimes contra a humanidade, jamais de incoerência. Incoerentes são os católicos que esperam dela atitudes incompatíveis com os princípios que a regem desde os tempos da Inquisição.

Se os católicos consideram o embrião sagrado, já que a alma se instalaria no instante em que o espermatozoide se esgueira entre os poros da membrana que reveste o óvulo, como podem estranhar que um prelado reaja com agressividade contra a interrupção de uma gravidez, ainda que a vida da mãe estuprada corra perigo extremo?

O arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, agiu em obediência estrita ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento.

Por que cobrar a excomunhão do padrasto estuprador, quando os católicos sempre silenciaram diante dos abusos sexuais contra meninos, perpetrados nos cantos das sacristias e dos colégios religiosos? Além da transferência para outras paróquias, qual a sanção aplicada contra os atos criminosos desses padres que nós, ex-alunos de colégios católicos, testemunhamos?

Não há o que reclamar. A política do Vaticano é claríssima: não excomunga estupradores.
Em nota à imprensa a respeito do episódio, afirmou Gianfranco Grieco, chefe do Conselho do Vaticano para a Família: "A igreja não pode nunca trair sua posição, que é a de defender a vida, da concepção até seu término natural, mesmo diante de um drama humano tão forte, como o da violência contra uma menina".

Por que não dizer a esse senhor que tal justificativa ofende a inteligência humana: defender a vida da concepção até a morte? Não seja descarado, senhor Grieco, as cadeias estão lotadas de bandidos cruéis e de assassinos da pior espécie que contam com a complacência piedosa da instituição à qual o senhor pertence.

Os católicos precisam ver a igreja como ela é, aferrada a sua lógica interna, seus princípios medievais, dogmas e cânones. Embora existam sacerdotes dignos de respeito e admiração, defensores dos anseios das pessoas humildes com as quais convivem, a burocracia hierárquica jamais lhes concederá voz ativa.
A esperança de que a instituição um dia adote posturas condizentes com os apelos sociais é vã; a modernização não virá. É ingenuidade esperar por ela.

Os males que a igreja causa à sociedade em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos, medida arbitrária de impacto desprezível. O verdadeiro perigo está em sua vocação secular para apoderar-se da maquinária do Estado, por meio do poder intimidatório exercido sobre nossos dirigentes.

Não por acaso, no presente episódio manifestaram suas opiniões cautelosas apenas o presidente da República e o ministro da Saúde.
Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos.

Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós.

quinta-feira, 5 de março de 2009

100 Anos de Patativa do Assaré

Hoje, 5 de março, o poeta Patativa do Assaré completaria 100 anos.

A terra e o homem sertanejo transfigurados em poesia pôs o sertão cantado no centro dos temas políticos cruciais para o Brasil, no secúlo XX. “Sobre política eu faço é ironia, é crítica”.
A frase está registrada no livro Patativa, poeta pássaro do Assaré, do pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará, Gilmar de Carvalho.

Quase quatro década antes, Patativa deixara escrito na autobiografia que escreveu para o livro Inspiração Nordestina, em 1956: “Não tenho tendência política, sou apenas um revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da política falsa, que continha muito fora do programa da verdadeira democracia”.

Mesmo sem partido, Patativa do Assaré foi um poeta engajado do seu jeito. Não teve causa social a partir dos anos 60 do século XX que Patativa não tivesse tratado em sua poesia. Cantou a reforma agrária muito antes de se ligar a militantes das Ligas Camponesas e de surgir o Movimento dos Sem Terra, fez versos contra a ditadura militar e pelas Diretas Já.

E foi, sim, o maior cantador das desigualdades sociais do Brasil. O realismo dos versos não embelezaram a feiura da pobreza que até hoje assola bolsões nos centros urbanos e rurais.


POÉTICA DA LIBERDADE
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/860567.html

__________________________________________


Brasi de Cima e Brasi de Baxo
(Trecho)

(Cante lá que eu canto cá)


Meu compadre Zé Fulô,
Meu amigo e companhêro,
Quage um ano que eu tou
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Cariri
Maginando que isto aqui
Era uma terra de sorte,
Mas fique sabendo tu
Que a miséra aqui no Su
É a mesma do Norte

Tudo o que procuro acho.
Eu pude vê neste crima,
Que tem o Brasi de baxo
E tem o Brasi de Cima
Brasi de Baxo, coitado!
É um pobre abandonado;
O de cima tem cartaz,
Um do ôtro é bem deferente:
Brasi de Cima é pra frente,
Brasi de Baxo é pra trás

Aqui no Brasi de Cima,
Não há dô nem indigença,
Reina o mais soave crima
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasil de Baxo
Sofre a feme e sofre o macho
A mais dura privação.

... ... ...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ginga Pop - MARACATU

Nasceu na África, chegou ao Brasil nas caravelas, meteu-se nos matos e mocambos, mesclou-se com tapuias e tupis. Começou como história real, virou devoção religiosa e já conta mais de século de vida profana, renovando-se a cada carnaval. Nas últimas décadas, extrapolou os três dias de Momo, entrou para a universidade e faz parte da contemporânea cena musical


Eleuda de Carvalho
da Redação - Jornal O POVO - 05 de Fevereiro de 2005


Minha embaixada chegou. Deixa meu povo passar. Meu povo pede licença. Pra na batucada desacatar (Assis Valente, carnaval de 1934)


Coisa de negro. De negro e branco. De negro, branco e índio.
Totalmente brasileiro, o maracatu é uma das mais bonitas expressões musicais, cênicas e coreográficas do nosso carnaval.
Em especial, no Ceará e em Pernambuco.

Maracatu - O nome, dúvidas de filólogos. Mário de Andrade, o poeta modernista e profundo pesquisador da música popular brasileira, sugere uma origem ameríndia.
Mescla de maracá, o instrumento musical e religioso de tapuias e tupis, e catu, que significa lindeza. Ou, ainda, de mará, guerra. Guerra bonita. Guerra de brincadeira. Resquício das inúmeras, violentas lutas de negros e índios, nesta imensidão do Novo Mundo, contra o domínio de Portugal.


Porto de Ceuta, 1415.

As naus portuguesas chegam ao litoral norte da África pela primeira vez. A viagem faz parte do grande projeto ibérico de reconquista, isto é, da expulsão dos mouros da península.
Porém, os lusitanos não se conformaram em somente tanger os muçulmanos do seu território.

Com apoio da igreja católica, se investiram de cruzados e desbravaram o mundo, a converter infiéis. Já em 1444 acontece a primeira venda pública de escravos em Lisboa.
Dois anos depois, os portugueses aproavam no golfo da Guiné. Negócio rendoso, este da escravaria.


Para o rei e para o papa. Em 1452, o apresamento dos negros da África é reforçado por bula de Nicolau V, que escreveu ao monarca de Portugal: ''Nós lhe outorgamos, pelos presentes documentos, com nossa autoridade apostólica, plena e livre permissão de invadir, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, onde quer que seja, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades e reduzir essas pessoas à escravidão perpétua''.


Em 1482, o navegador Diogo Cão chega ao reino do Congo.
Escreveu uma carta ao rei: ''Na era da criação do mundo de 6881, do nascimento de Nosso Senhor, o mui alto, mui excelente e príncipe el-rei D. João II mandou descobrir estas terras e pôr este padrão por Diogo Cão, escudeiro da sua casa''.

Cão envia uma embaixada de quatro dos seus homens ao manicongo, o rei, na capital de seu reino, a cidade de Mbanza. Como não voltassem, prendeu o mesmo tanto de negros e os levou a Portugal, para serem catequizados e devidamente batizados.

Voltando em 1484, mandou um deles a Mbanza, ao encontro do manicongo. Um cronista da época registrou: ''Todos os grandes do reino estavam em Mbanza. Os portugueses entraram na cidade. O rei estava sentado num trono de marfim colocado sobre um estrado. Coube aos frades entregar ao rei os presentes do monarca português - louças e talheres em ouro e prata; alfaias do culto; pratos de ouro e prata; brocados em peças, panos de seda; veludos de carmezim; painéis de boa pintura; rabos de cavalo guarnecidos de prata. Finalmente surgiu uma cruz de prata, benzida pelo papa Inocêncio VIII. Os portugueses ajoelharam-se. O rei, que tinha o tronco nu, um rabo de cavalo a pender-lhe do ombro esquerdo e manto de damasco a tapar-lhe os pés, inclinou-se. Seguiu-se depois uma ruidosa festa, à maneira africana''. É desses encontros que vem a tradição da embaixada.



Nem todos os manicongos foram tão receptivos quanto aquele. Até porque Portugal não respeitava os tratados nem a receptividade dos nativos. Aprisionavam membros da casa real. Destruíam aldeias e cidades. Tomavam o ouro, o marfim, as peles preciosas. Um clima de revolta no ar. Por volta de 1600, o reino do Congo tem à frente uma rainha, Nginga Nbandi, ou simplesmente rainha Ginga.

Ela foi batizada com o nome de Ana de Souza em 1622 mas, não suportando os desmandos da coroa portuguesa, morreu guerreando em defesa de seu reino. É esta rainha guerreira que vai virar o símbolo principal, embora encoberto, das festas de coroação dos reis do Congo, o Auto dos Congos - brincadeira permitida pelo portugueses tanto em Portugal quanto na imensa colônia da América. Festejo com toda a pompa no adro das igrejas de Nossa Senhora do Rosário. Um momento de saborear a liberdade e a glória perdidas na escravidão. A festa liberava os negros, ao menos por um dia.

Do auto dos congos dos séculos 17 e 18, surgiram os maracatus. No Ceará, há registro deles desde o século 19.
Entraram século 20 adiante, animando os carnavais. Hoje em dia existem em Fortaleza os maracatus Az de Ouro, onde pontifica a figura majestosa do mestre Juca do Balaio; o Vozes d'África, Nação Iracema, Nação Baobab (de Raimundo Praxedes), o Rei de Paus, o Rei Zumbi, o Kizomba (onde brinca Descartes Gadelha) e o estreante Nação Fortaleza.

O maracatu mereceu registros de pesquisadores como Mário de Andrade, Câmara Cascudo e do maestro Guerra-Peixe. Em meados dos anos 60, Jorge Mautner compôs ''Maracatu Atômico'', gravado por Gilberto Gil.

Na década de 70, Alceu Valença, em Pernambuco, e Ednardo, no Ceará, criaram maracatus com levada pop de guitarras. O ritmo ganhará novo e definitivo impulso nos anos 90, com Chico Science e seu Nação Zumbi, que fundiram maracatu rural e hip hop.

Por aqui, Calé Alencar também se dedicava às loas, tanto nos seus discos e shows quanto puxando o cortejo na avenida. O ritmo daqui, tradicionalmente mais ralentado, vem se modificando aos poucos, com introduções de músicos como Descartes Gadelha, que acelerou a levada. A batida dos tambores e a pancada do triângulo de ferro também estão na matriz de uma dezena de grupos e bandas, como Eletrocactus, Dr. Raiz, Kauandes, Kapruk, Soul Nêgo, Dona Zefinha, Batikum, Moraca, Tambores de Guaramiranga, Brincantes Cordão do Caroá, Caravana Cultural e Vigna Vulgaris. Todos com muito ritmo, muita garra, muita beleza. E muita, muita ginga.

Colaborou - Teresa Monteiro

Gamela da nossa mistura.

O cantor e compositor cearense botou o maracatu pra tocar no rádio e na tevê. Com Pavão Mysteriozo, a batida do ferro e o poema de cordel estavam todos os dias na Globo.

Maracatu Estrela Brilhante
Maracatu o teu brilho errante
Gamela da nossa mistura
Tão linda tão mista e tão pura
Maracatu
Garra maracá já guerreiro
Batuque ferro e ganzá
A flecha cravada no céu brasileiro
Infinitamente cantar, cantar, cantar

''Maracatu Estrela Brilhante'', de Ednardo - disco Imã.

A UFC fervilhava, naqueles fins dos anos 60. Aliás: o mundo inteiro ardia com a chama acesa por uma geração insubmissa que ousou subverter os costumes, demolir o poder.
Por estas bandas de cá, esse fogo queimava. Parte dos moços escolheu o sonho da psicodelia ao pesadelo que se anunciava nos clarins dos quartéis. Outra parte preferiu o coletivo à singularidade. Teve também os que costuraram o roto tecido social com as linhas da arte. Mesclando os ingredientes do inconformismo e o combate à velha ordem, criaram acordes novos, dissonantes.

Falaram de tudo isso, do momento, da rebeldia, da força da juventude. É nessa encruzilhada de tempo e espaço que emerge o chamado Pessoal do Ceará. Dentre eles, o estudante de química José Ednardo Soares Costa Sousa.

No princípio, tocaram seus violões, soltaram a voz nos centros acadêmicos, daí aos bares da cidade, aos botecos da beira do mar. Que som é esse?

Um dia, tiveram que sair da aldeia. Brasília. São Paulo. Rio de Janeiro. Pra ''voltar em vídeo-tape e revistas supercoloridas'', como cantou Ednardo em ''Carneiro'', faixa de abertura do seu primeiro disco solo.
Primeiro, veio acompanhado, em 1973. Na capa do LP diferente, a almofada e os bilros da rendeira.
Era o Pessoal do Ceará: Ednardo, Rodger Rogério e Téti (o outro título do disco é Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem). Ednardo abre a cena com o maracatu ''Ingazeiras'', que ele fez em homenagem ao artista plástico Aldemir Martins. Depois, outro maracatu assinado por ele, ''Terral''.
Aí vêm ''Cavalo-Ferro'' (Ricardo Bezerra e Fagner), Rodger Rogério cantando ''Curta-Metragem'' (dele e José Evangelista, o Dedé), Téti em ''Dono dos teus olhos'', de Humberto Teixeira.
E ainda tem outro maracatu do Ednardo, ''Beira-Mar''. Pronto. Do asfalto carnavalesco, o maracatu cearense ingressava pela porta da frente na MPB.
Em 74, com O Romance do Pavão Mysteriozo, Ednardo consolida seu caminhar.
Neste disco emblemático, além da faixa título, inesquecível, tem ''Dorothy Lamour'' (de Petrúcio Maia e Fausto Nilo) e ''A palo seco'' (de Belchior). Em 76, ''Pavão Mysteriozo'' é tema de abertura da novela Saramandaia, de Dias Gomes, e Ednardo lança outro LP.

O nome, um luxo - Do boi só se perde o BERRO e é justamente o que eu vim apresentar.
Aqui, a história cearense serve de mote pra canções como ''Artigo 26'' e ''Padaria Espiritual'', ambas sobre o movimento literário que agitou Fortaleza no final do século 19;

Tem ''Passeio Público'', para os confederados, e o maracatu ''Longarinas''. No disco de 77, O Azul e o Encarnado, Ednardo resgata o pastoril (entre as faixas, salta um ritmo maranhense, em ''Boi Mandingueiro''). A reverência aos ancestrais está presente em Cauim, de 78, também título de filme dirigido por Ednardo.

Em 79, o disco Ednardo inclui a saborosa ''A manga-rosa'', a lírica ''Flora'', e a instrumental ''Araguaia''. Parcerias em ''Lagoa de Aluá'' (com Climério e Vicente Lopes), ''Enquanto engoma a calça'' (dele e Climério), além de ''Lupiscínica'' (de Petrúcio Maia e Augusto Pontes).
Em 80, Ednardo lança o solo Imã e o duplo Massafeira (fruto do evento homônimo, que reuniu o Pessoal do Ceará à nova geração - Calé Alencar, Chico Pio, Stélio Valle, Pachelly Jamacaru, os irmãos Fonteles, além da presença luxuosa de Patativa do Assaré).

Ainda nos anos 80, o artista lança Terra da Luz, outro Ednardo e Libertree.
Volta a gravar em 91, o ao vivo Rubi.
Em 2000, Única Pessoa.
Em 2002, lança, com Belchior e Amelinha, um segundo Pessoal do Ceará.
Assina também as trilhas sonoras dos filmes Tigipió, de 85, Luzia-Homem, de 87 (no qual também atua), e O calor da pele, de 94.

Ednardo nasceu em Fortaleza, no dia 17 de abril de 1945. À beira dos 60 anos, o artista continua criando, encantando e influindo em novas gerações por todo o Brasil.

Eleuda de Carvalho

______________________

ENTREVISTA - Concedida por Ednardo à Eleuda de Carvalho - Publicada no O POVO em 25 Fevereiro de 2005.

O POVO - Antes de falar sobre sua música e de como incorporou à sua linguagem a batida do maracatu cearense, qual foi a primeira imagem do maracatu que você viu, ouviu? Por exemplo, o Estrela Brilhante, que você homenageou na canção.

Ednardo - Não deve passar despercebido, nem aos olhos mais desatentos, o simbologismo do maracatu em suas cargas conceituais. Força cósmica, o maracatu perpassa incólume ao tempo. No caldeirão brasileiro de raças, somos índios, pretos, brancos, amarelos, vermelhos, marrons, sararás, caboclos, cafuzos, crioulos.
A característica notável e ímpar do maracatu cearense, além da presença de nosso povo miscigenado, é a atitude guerreira na síntese de resistência em festa de libertação e manutenção de culturas.
Além do interessante vestuário, os rostos pintados, a dança, os instrumentos de percussões onde adicionam o triângulo de maracatu, fabricado com sabedoria de tonalidades harmônicas, são todos estes itens elementos diferenciais, significativos e inconfundíveis.

Na infância, vi pela primeira vez os maracatus em Fortaleza: Estrela Brilhante, Ás de Espadas, Ás de Ouro, vinham faiscantes pela rua que não tinha eficiente iluminação pública, causavam efeito especial à auto-iluminação dos blocos feita por dezenas de lampiões, candelabros de lamparinas revestidos com tênues tecidos vermelho-laranja-amarelo que tinham efeitos de tochas de fogo, faziam uma espécie de cordão que circundava o bloco.

Vinha o baliza com uns passos gingados e um bastão nas mãos, sua dança uma mistura da pisada indígena com a malemolência africana, o abre-alas para os morubixáuas e suas índias e uma grande ala de índios, os pajés faziam circunvoluções, um cheiro de ervas aromáticas no ar, aí vinha a corte real, com a calunga, os grandes leques de abano, o balaieiro com frutas da região incrivelmente equilibradas na cabeça sem por as mãos enquanto gingava.

Depois soube que tinham rituais, primeiro se reuniam no Parque da Liberdade (Cidade da Criança, em frente à praça Coração de Jesus), depois juntavam-se os blocos na praça do Passeio Público e começavam a bater tambores, entoar loas, de longe a gente escutava a preparação e quando o maracatu passava tinha tal emoção contagiante, o grave dos tambores, o contraponto com o timbre metálico agudo dos triângulos.

OP - Fale do Pavão Mysteriozo, o folheto, e de como você criou, a partir dele e com a pancada do maracatu, uma das mais emblemáticas músicas do Brasil, tema de uma novela surrealista do Dias Gomes, Saramandaia (1976).

Ednardo - Com um pé na realidade nas cenas e culturas do Ceará, e outro nas realidades urbanas, Fortaleza, São Paulo, Rio, aprendizado e estradas, informações amplas e descobrindo outras. O Nordeste brasileiro tem confluência com a tradição ibérica, hoje em dia, mesmo os mais novos - que ainda não saibam onde estão pisando - é bom que se liguem no prosseguimento do que foi construído por seus antecessores de todas as raças.
O folheto de cordel do Pavão Mysteriozo é uma destas consciências de que artistas são depositários da sabedoria popular, devemos procurar entender estes ensinamentos, podemos dar nosso grau conforme momento e lugar, atuamos no emblema contemporâneo do mundo. Apenas dei forma, ritmo e voz, concretizando em sons o que todos já sabem, e podiam estar esquecidos, como se escolhe flores, palavras e energias para ofertar a quem estiver aberto para receber.

OP - O maracatu era, até você capturar em pleno vôo este misterioso e belo pavão, umas canções do Capiba, quer dizer, se alguém sabia o que era, era via Pernambuco. Tanto que muita gente ainda pensa que o nosso maracatu é derivado do maracatu de lá, trazido na década de 30 pelo folião Pedro Boca Aberta, depois de um carnaval que ele passou no Recife.
O escritor cearense Gustavo Barroso, no seu livro de memórias Coração de Menino, relembra o pavor que tinha da batida lenta dos maracatus no centro de Fortaleza, fala das caras tisnadas, isto recordando fatos de 1880, por aí.

Ednardo - O maracatu do Ceará existe há bastante tempo. Ao perceber sua beleza, trabalhei para criar uma das possibilidades de abrir escaninhos locais onde eram mantidos e mostrar para um maior número de pessoas.

Se tão antigo em organizações de blocos quanto o de Pernambuco, é interrogação que será mais esclarecida quando fizerem estudos detalhados, mas esta espécie de ''simbiose estética'' está entranhada em nossos arquétipos culturais e raciais, tem visíveis diferenciações, leva a crer que é pouco provável que tenha sido simplesmente ''importado'' de outro estado, isto pareceria estratégia de exclusividade sobre o maracatu.

O sincretismo religioso que acontece no Brasil entre as civilizações ameríndias, européias e africanas desde o descobrimento à atualidade não pertence a um estado definido por fronteiras físicas, está onde estão pessoas de diferentes credos e raças. Existem versões sobre o sincretismo nos diversos aspectos do cerimonial, estético, doutrinário das teorias místicas relacionadas com a formação do mundo e conjunto de divindades que formam a história das religiões.

Uma delas, seria a forma da civilização dominante impor sutilmente sua própria religião e cultura aos dominados e a outra, da cultura dominada burlar a dominante, fingindo adorar seus deuses, mas na realidade venerando suas próprias entidades, associando umas às outras. Sabe-se dos cortejos negros das irmandades religiosas do Crato, Icó, registrado por Eduardo Campos, Sérgio Pires, Gilmar de Carvalho, e também nas memórias de Gustavo Barroso.

Mas em nenhum momento o pessoal que faz o maracatu cearense tem dúvidas que isto pertence a eles, nesta mistura entre o sagrado e o profano, entre o sonho e a realidade.

OP - Diferente dos dois estilos do maracatu do Pernambuco, o mais do candomblé, de Nação chamado, e o mais acaboclado da Zona da Mata - mas ambos com um ritmo acelerado.
Já o maracatu cabeça-chata tem esta coisa lenta, lenta, lenta, linda, quase uma latomia, um bendito pungente, som hipnótico, uma tristeza pungente marcada pela batida poderosa no triângulo de ferro.

Ednardo - O maracatu cearense não tem viés de tristeza e severidade, são palavras que serviriam para o equívoco de tese que alguns defendem para retirá-lo do carnaval e colocá-lo no folclore, como objeto de pesquisa no passado.
O maracatu cearense tem a força da resistência e alegria.

Filmando Cauim em Fortaleza, na parte do roteiro do filme realizada no carnaval de 1977, um dos focos no maracatu cearense, um repórter foi me entrevistar em plena ação de filmagens: - Você não acha inadequado e triste o maracatu cearense, seria melhor retirá-lo do carnaval.
Na época, faziam campanha para o carnaval cearense se assemelhar às escolas de samba do Rio.

No insight do momento mostrei que os componentes do maracatu estavam desfilando com rostos de felicidade para o público e não para a câmera.
Perguntei: onde você está vendo tristeza? Lembro que conversando com Descartes Gadelha (72), ele junto com amigos estavam formatando a Escola de Samba Ispáia Brasa, quando falou de concepções rítmicas que forneciam uma identidade misturando batuques indígenas com negros, eu disse que era um achado fenomenal e quando possível levasse para o maracatu do Ceará.

Eu já havia dado uma acelerada rítmica em alguns maracatus que gravei em discos, Descartes com outros amigos formataram o Maracatu Nação Baobab, que revolucionou o maracatu cearense e também rendeu críticas absurdas. Falavam que ele estava descaracterizando o maracatu. Ora, logo ele, iluminado com luz intensa!

OP - O que você pode falar sobre a geração manguebeat, o Chico Science juntando maracatu e hip hop e influenciando toda uma nova galera?
Aqui, você sabe que seu trabalho, em particular, está no âmago da rapaziada que usa os ritmos populares numa linguagem atual. Mas ninguém fala muito. Como é esta história do santo de casa não fazer milagres?

Ednardo - Maracatu é célula básica, uma das vertentes rítmicas da música brasileira, célula tronco, fornece a seiva para outras transformações.
Quando o pessoal do Ceará e Pernambuco utilizam estas informações, é para continuar a linha evolutiva da música brasileira, de seus ícones ancestrais à atualidade.
Desde as primeiras músicas gravadas em meus discos, existem vários maracatus, em diversas nuances: ''Terral'', ''Pavão Mysteriozo'', ''Longarinas'' (anos 70); ''Ser e Estar'', ''Ponto de Conexão'' (anos 80), em abordagens desde maracatus lentos aos acelerados.

O Chico e a valorosa geração manguebeat forneceram suas contribuições ao maracatu de Pernambuco, lembro que Ariano Suassuna criticou Science e Nação Zumbi, mas a moçada de Pernambuco gostou e depois Suassuna se rendeu à evidência.

Também vamos dizer viva a Descartes Gadelha, que antes do Science teve coragem de misturar e acelerar os ritmos e colocar o bloco na rua, vivas ao Calé Alencar, Pingo de Fortaleza, Dilson Pinheiro, pela continuidade do maracatu tradicional e pelo zelo de registros, e a todos os mestres do maracatu cearense e seus trabalhos que se estendem na esfera de preocupações sociais.

Tenho consciência do alcance das músicas que faço e seus naturais limites. Foram realizadas com objetivos amplos, mas também simples vontade de cantar. Sei que estão no âmago das novas galeras, mas não penso em alimentar expectativas em histórias de santos de casa e milagres. Sigo compondo e cantando, o restante fica por conta de vocês.



OP - No I Festival de Violeiros e Cantadores (outubro de 2004, em Quixadá e Quixeramobim), quando você subiu ao palco e começou a cantar - e olhe que você rearranjou suas composições, inclusive, o ''Pavão Mysteriozo'' - todo mundo cantou junto. Como é criar uma música que ultrapassa duas, três décadas?

Ednardo - Em shows pelo Nordeste, em Teresina, encontrei mestre Luiz Gonzaga, sorriso estampado no rosto e voz forte chamando: - Ednardo venha cá, ouvi dizer que você não está cantando ''Pavão Mysteriozo'' nos shows, faça isso não meu filho, você foi abençoado pelo povo, sucesso genuíno.
Até hoje canto ''Asa Branca'' porque o povo pede, não deixe de lado essa música, gosto muito dela e o povo também. Foi ensinamento de mestre.

No Festival de Violeiros e Cantadores, ouvi de novo os mestres (entre muitos que tenho) e coloquei no roteiro esta e outras músicas de meu repertório, também abençoadas pelo povo.
Os arranjos atuais partem principalmente da compreensão dos arranjos originais e também pela leitura de novos músicos cearenses da banda que me acompanha, confio em suas sensibilidades, são excelentes profissionais, os acordes e ritmos, tudo passa por minha concordância.

Ao constatar que ultrapassam gerações, duas, três décadas, permanecendo íntegras e significantes, penso que é porque assim foram feitas. Posso me considerar um sujeito de sorte e de forma geral querido pelo público, além do mais, minhas músicas, quando analisadas pelo povo e críticos especializados, pelo que percebo, fornecem sensação de que não fugi da raia de meu tempo e espaço e, segundo atestam, continuam servindo de faróis para muitos.

OP - A gente aqui vê você menos do que desejaria. ''Amanhã, se der o carneiro/ vou-me embora daqui pro Rio de Janeiro...''. E você foi. Bate a saudade? Como é ver o Ceará de longe? Você pensa em voltar, ou só ''em vídeo-tape''?

Ednardo - Também desejaria que nossas cidades nos vissem e ouvissem muito mais, que o foco de atenções tivesse identidades próprias, não esperasse ver ou ouvir primeiro seus artistas em outros locais, principalmente no exterior, para depois reconhecê-los como legítimos representantes de nosso povo.

A pergunta, mesmo específica e dirigida, cabe amplamente à grande parte dos artistas brasileiros. Mas as respostas, talvez, seriam mais esclarecedoras se fornecidas pelos que articulam a mídia e meios de comunicação.
Seria legal que nossos meios de comunicação, nossos governantes, tivessem orgulho de seus artistas, que são antenas da raça, e nos tratassem melhor para não sermos forçados a cada instante a dar nomes aos bois que atravessam os trilhos da música brasileira, hoje em dia mais respeitada no exterior que no Brasil.

Mas estou mais perto de minha terra que muitos que aí residem. É claro que sempre bate saudades de Fortaleza, mas como voltar pra uma cidade da qual nunca saí?

_________________________________

Sustenta a Pisada!

O registro mais antigo do maracatu recua ao ano de 1711, num carnaval (à época dizia-se entrudo) em Olinda. Era o ancestral dos famosos maracatus de nação, da folia pernambucana, uma estilização dos autos de congos.
Nação aí é sinônimo de etnia ou povo africano - nação angola, nação congo, nação bantu. Do nação participam entre 30 e 50 figuras no cortejo real, começando pelo porta-estandarte, com suas vestes ao modo da corte do rei francês Luís XV.
Ao lado dele, vem a baliza, com seu requebrado, sua graça. Geralmente, uma moça. Em seguida vêm as damas do paço (isto é, as mulheres nobres que circundavam a rainha, no paço ou palácio).
Uma delas conduz a boneca chamada calunga, portadora da religiosidade e representando as entidades espirituais. Depois, outros personagens da corte, o duque e a duquesa, um casal de príncipes e uma das figuras mais importantes e mais diretamente ligadas à parte histórica que originou, depois, a estilização no auto dos congos: o embaixador.

A corte abre alas para o rei e a rainha, devidamente coroados, vestindo seus mantos de veludo rebordados de pedrarias, carregando solenes o cetro e a espada. Rei e rainha são protegidos por um imenso guarda-sol, oriundo da tradição árabe.
Para evoluir, o nação é animado por vários tambores grandes (zabumbas), médios (alfaias), caixas e taróis, ganzás e o gonguê (um só ou um par de sinos, percutidos com uma vareta de metal).
Completando o cortejo, a ala das baianas, com suas imensas saias rodadas, e os caboclos, representando as etnias indígenas, vestidos de pena e estalando pequenos arcos e flechas.
Em Pernambuco, o maracatu nação também é chamado de baque virado.
No Ceará, o cortejo do maracatu assemelha-se ao de nação pernambucano, no figural e instrumentação, mas difere por algumas características singulares, quais sejam - o rosto dos brincantes, pintado de preto, a figura do balaieiro, com o enorme cesto de frutas equilibrado na cabeça, os defumadores, aspergindo incenso para abrir os caminhos, e o triângulo de ferro, marcando o compasso.

Aqui também é fundamental a boneca, igualmente chamada de calunga. Mais recente é o maracatu rural, ou de baque solto, que nasceu nos canaviais da Zona da Mata pernambucana já em meados do século passado.
Também são conhecidos por maracatu de orquestra, por contar com um grupo de músicos que utilizam instrumentos metálicos de sopro, como os trombones, saxes e cornetas.
No figural, destaque para os caboclos de lança, portando vistosas golas terminadas por chocalhos na parte de trás, e as cabeleiras imensas de ráfia colorida. Eles costumam usar óculos espelhados e brincar com uma flor presa entre os dentes. O mestre canta a palo seco (isto é, sem acompanhamento instrumental), respondido pelo coro feminino e o troar dos chocalhos, apitos e demais instrumentos.

O canto do mestre é improvisado. Além dos metais, o cortejo é animado por gonguê, ganzá, tarol, cuíca, surdo e zabumba. Confira alguns instrumentos percussivos que fazem parte dos cortejos.

Eleuda de Carvalho e Tereza Monteiro

ABÊ - É um instrumento artesanal, feito de cabaça recoberta por uma ''saia'' de contas ou miçangas. Quando friccionadas, fazem um som que lembra a palavra xequerê, como também o instrumento é conhecido.

AGOGÔ - Instrumento de percussão em ferro, de origem africana. O nome é nagô, significando sino. O agogô também está presente nos cerimoniais do candomblé.

ALFAIA - É um tambor grande, mais alto que o zabumba mas de circunferência um pouco menor, revestido por couro de bode. Seu som grave segura o baque e repercute direto com as batidas cardíacas. É o mais orgânico dos tambores, justamente por bater no compasso do coração. É tocado com duas baquetas.

CAIXA - Tambor revestido com pele natural nas laterais. De tamanho pequeno, pende do corpo do tocador à altura do umbigo. O som produzido é intermediário entre o tarol e a alfaia. No Ceará, chama-se também caixa-de-guerra.

CAXIXI - De origem indígena, é um chocalho feito de palha trançada com a base de cabaça, cortada em forma circular e a parte superior reta, terminando com uma alça também de palha, por onde o tocador passa os dedos da mão, menos o polegar. O caxixi também é muito utilizado junto com o berimbau, na capoeira.

GONGUÉ - Ou gonguê. É composto por duas chapas de ferro fundido com aço e ligadas entre si. O instrumentista segura o gongué por um cabinho metálico e o percute com um bastãozinho de madeira.

TRIÂNGULO - Mais característico elemento percussivo do maracatu cearense, o triângulo é feito com uma peça de ferro larga e pesada de chassi de caminhão. Ao contrário dos triângulos convencionais, seu som é grave, profundo, solene. Na hora em que o maracatu aponta na avenida, é justamente a poderosa batida no triângulo que faz todos os olhos se voltarem na sua direção. Embora com as inovações dos últimos anos, que aceleraram o ritmo, até os anos 80 mais compassado, o triângulo ou simplesmente ferro mantém-se como a marca da originalidade neste cortejo que nasceu longe, na África, lá no século 16.


Batendo tambor

A levada do bumbo e a marcação do ferro, que caracterizam o maracatu cearense, estão no balaio sonoro de três gerações que fazem música em Fortaleza, desde os anos 70.

Desde os anos 70, com o Pessoal do Ceará - e especialmente com Ednardo - o maracatu escapoliu dos três dias de folia para contribuir e singularizar a música feita por estas bandas.
A geração 80 teve uma participação fundamental nesta levada.
Desta década, o mais ligado à tradição e, em particular, ao maracatu, é Carlos Alberto Alencar, o Calé.
Através do selo Equatorial (Nossa História em Música e Letra), o artista vem resgatando valores de há muito esquecidos, como Lauro Maia, que criou o balancê junto com o violonista Aleardo Freitas. Via Equatorial, Calé Alencar lançou uma caixinha com cartões postais de fotografias dos maracatus da década de 50. Outro trabalho realizado no formato cartões apresenta o cortejo talhado no taco da xilogravura (parte deles ilustra esta edição). ''Tô inaugurando uma nova etapa desta minha participação no mundo do maracatu.

Estamos lançando este ano o Nação Fortaleza, que vai se apresentar pela primeira vez.
Não é apenas um trabalho pra desfile, mas com a consciência de um grupo de dança de maracatu, em todos os vetores que isto pode ser compreendido, a cidadania, o exercício da arte, da capacitação, do design, do artesanato, a costura, pintura, a musicalização, a compreensão da dança e da sua história, origem e evolução'', conta Calé, atual presidente da Federação das Agremiações Carnavalescas do Ceará.

O Nação Fortaleza, formado basicamente por crianças e jovens, traz um ''batuque bastante singular'', diz Calé. ''Fizemos o desenho das caixas, dos surdos e bumbos, dos chocalhos. Conservamos a batida dos ferros. É uma contribuição minha a uma identidade rítmica do maracatu Nação Fortaleza, inspirado nos ferros do Az de Espadas, que surgiu aí no início do anos 50.
Mas dei mais valocidade ao batuque, inclui ganzás. No tema da nossa loa, pensamos em realçar a figura da rainha Ginga.
Ela é símbolo de resistência, de heroísmo, de bravura, da mulher guerreira, personificada na rainha do maracatu. Na loa 'Ginga, rainha da gente', é como se chamássemos a rainha pra ver o figural que vai homenageá-la''.

... ... ...

.
Nota - O material desta publicação é bastante extenso e ilustrado com fotos e desenhos de xilogravuras, mereceu um caderno inteiro do Jornal O POVO de Fortaleza. Para os que quiserem acessar o teor completo, a melhor forma é entrar em contato com com o setor deste jornal, responsável pelo armazenamento destas informações.
.