segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Maracatu Nação Pernambuco

Belíssimo clipe do Maracatu Nação Pernambuco. É uma colagem de momentos de suas apresentações com vários trechos de músicas, poesias, que os brincantes desta nação interpretam com grande beleza.

Vou me embora dessa terra
Para outra terra eu vou
Sei que aqui eu sou querido
Mas não sei se lá eu sou
O que eu tenho pra levar
É a saudade desse chão
Minha força, meu batuque
Herança da minha nação
(Trecho da letra de Olodumaré -Antônio Nóbrega)
...

Olinda vou navegar
Na dança do mar, do teu mar
Se eu te perder nesse cais
Para obiará
...
Foi essa dança que fez tremer Casa Caiada
Qual é essa dança, foi da Ribeira até Escada
Eu vim de Holanda pra Olinda
Eu naveguei no caminho das Índias
(Trechos de letras de Domínio Publico)

domingo, 30 de dezembro de 2007

Excelente 2008

Pessoal, neste ano de 2007, nossa conversa foi boa, no próximo 2008 será excelente.
Tudo de bom para todos que frequentaram e contribuiram com suas colaborações e informações para que nosso blogzine fique cada vez melhor.

Abraços do Zeca Zines!

Ednardo - Dono dos Teus Olhos / Kalu

Dono dos Teus Olhos
Humberto Teixeira

Não te esqueças que eu sou dono dos teus olhos
Faz favor de não "espiar" pra mais ninguém
Esse azul cor de promessa dos teus olhos
Faz qualquer cristão gostar de "tu" também
Que Nosso Senhor perdoe os meus ciúmes
Quando eu penso em cegar os olhos teus
Pra que eu, somente eu seja o teu guia
Os olhos dos teus olhos
A luz dos olhos teus


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Kalu
Humberto Teixeira

Kalu, Kalu
Tira o verde desses "zói de riba d'eu"
Kalu, Kalu
Não me diga que você já se esqueceu
Kalu, Kalu
Esse olhar depois do que "assucedeu"
Com certeza só não tendo coração
Fazer tal judiação
Você tá "mangando de eu"

Nota: Na música Kalu, Ednardo atualiza sua leitura, modificando a letra inicial:
Colocando "diga" em vez de "tente". E "certeza" em vez de "franqueza".
O que dá outra leitura interessante.

Ednardo - A Manga Rosa

A Manga Rosa
Ednardo

A manga rosa
Maria Rosa
Rosa Maria Joana
Peitos gostosos
Rosados doces
Rosados doces, mama, mama mamãe
Teu sumo escorre da minha boca
Entre-aberta porta
Por onde entra, por onde sai
Por onde entra e sai o mundo
Mundo

Balança a fronde
Farta mangueira
E mata a fome, morto a fome
Ou mata, imensa massa, imensa massa
Florados cachos de verde amarelou
Maduro fruto que pro nosso gozo vem
Amem, amem, amem, amem
Mamem, mamem, mamem, mamem
Ámem, ámem, ámem, ámem

Ednardo - É Cara de Pau


É Cara de Pau
Ednardo / Brandão

É cara de pau
E você acha que eu posso fazer
Fazer mais do que eu fiz
Ajudei essa louca a viver
E ela mesma é quem diz
Que quer me ver frito
Que quer me ver morto
Estendido no chão - eu não

Puz o bagulho do lado
Quebrei o estrado e toquei fogo no colchão
A gente se amarra, aconselha os pivetes
Faz até oração
Porém chega um dia
Que se fuma uma bia
E também se faz a nossa confusão
Ora tenha paciência
Quer me ver andar duro
E com toda decência
Mas em são consciência
Qualquer malandro manja
Essa falsa inocência

Ednardo - Ingazeiras




Ingazeiras
Ednardo

Nasci pela Ingazeiras
Criado no ôco do mundo
Meus sonhos descendo ladeiras
Varando cancelas
Abrindo porteiras
Sem ter o espanto da morte
Nem do ronco do trovão

O sul a sorte a estrada me seduz
É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz


Ednardo - Longarinas


Longarinas
Ednardo

Faz muito tempo que eu não vejo o verde daquele mar quebrar
Nas longarinas da ponte velha que ainda não caiu
Faz muito tempo que eu não vejo o branco da espuma espirrar
Naquelas pedras com a sua eterna briga com o mar

Uma a uma as coisas vão sumindo
Uma a uma se desminlinguindo
Só eu e a ponte velha teimam resistindo
A nova jangada de vela
Pintada de verde e encarnado
O meu mote não muda
A moda não muda nada

O mar engolindo lindo
A antiga praia de Iracema
Os olhos grandes da menina
Lendo os meus mais novos poemas
A lua viu desconfiada
A noiva do sol com mais um supermercado
Era uma vez meu castelo entre mangueiras e jasmins florados

Beira Mar, ê, ê Beira Mar ...

Ê maninha, arma aquela rêde branca
Arma aquela rêde branca...

Que eu vou chegando agora

Ednardo - Lagoa de Aluá

Lagoa de Aluá
Ednardo / Climério / Vicente Lopes

Uma lagoa nasceu dentro do meu peito
Pra de noitinha vir a lua espiar
O meu amor mergulhando dentro dela
Nadando nela sem o cabelo se molhar
Como é bonito ver o meu amor nadar
Nessa lagoa que nasceu dentro de mim
Depois notar que de tanto se banhar
Meu amor virou saudade e saiu no meu cantar
Se essa lagoa fosse um copo de aluá
Eu bebia dentro dela até me maravilhar

E hoje em dia se me lembro da lagoa
Sinto que a lua está morando no meu peito
E o seu clarão é a luz do seu amor
Que depois que me encandeia
Faz a luz do meu olhar
E vejo claro que a lagoa que não vejo
É o gosto desse beijo que não posso mais beijar

Ednardo - Está Escrito / Versos de Violeiros e Cordelistas

Está Escrito
Ednardo

Está escrito
No grande livro da sabedoria popular
Que primeiro se deve viver
Que é pra depois poetar

Se arme de amor e coragem
Que a minh'arma eu nunca embainho
Se arme de amor e coragem
Como a rosa se arma no espinho
Na tragédia, poesia, na prosa
Tem picada feroz e carinho
Se arme de amor e coragem
Que a minh'arma eu nunca embainho

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Versos de Violeiros e Cordelistas
D.P.

Mana pegue na viola
Que eu quero ver seu talento
Sendo de metal eu quebro,
Sendo de bronze impromento
Sendo de aço eu envergo,
Sendo de ferro eu 'rebento

Menina você é minha
Suceda o que assuceder
Aquilo que o povo diz
Foi ou é ou há de ser
Pois menina quando mija
E faz um buraco no chão
É sinal que já tem força
No bico do gavião

Sou raio estou faiscando
Sou peçonha de serpente
Sou furacão na nascente
Sou pedra infernal queimando
Sou dez navalhas cortando
Devora sem ver a quem
Dos poetas que aqui tem
O que for de mais conceito
Eu pegando ele à meu jeito
Ou quebra, ou papoca, ou vem

Cachaça bicha danada
Cachaça bicha gostosa
Quantas vezes bebi dela
E caí pela calçada
Com a boca bem aberta
E a barriga espichada
Sendo alvo do aperreio
Do povo e da meninada
Pois a gente bebe tanto
Nessa terra do Brasil
Que até o nosso mapa
Já tem forma de funil

Avoa meu caboré
Penera meu gavião
Avoa meu caboré
Penera meu gavião
Palmatória quebra dedo
Palmatória faz vergão
Palmatória quebra dedo
Palmatória faz vergão
Quebra osso amassa carne
Só não quebra opinião

sábado, 22 de dezembro de 2007

Mário Quintana - Vamos falar de poesia...


"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras.
Pensa que está somente afogando problemas dele, João Silva...
Ele está é bebendo a milenar inquietação do mundo!"


Se eu fosse um padre
(Mário Quintana)
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma...e um belo poema
— ainda que de Deus se aparte
—um belo poema sempre leva a Deus!
Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 105.


sábado, 8 de dezembro de 2007

Alfa Beta Ação

ALFA BETA AÇÃO
EDNARDO

Aquele mestre ensina justamente aquilo
Que não me interessa saber
Esquece de dizer - meninos nossa sina é saber viver
Impõe, implora, impera e vocifera
É que ele tem a vara de condão
Da educação, da conformação, da transformação, a revolução
É que são tantos verbos de persuadir
De sujeitar o sujeito a não existir
É que são tantos objetos indiretos
Condicionais do porvir

Na hora do recreio
Vamos todos soletrar bê-a-bá, bê-ipsilon - Baby
Luz del Fuego, marginal canção de amor, grito primal
Namorar por trás do muro do vestibular
Cruzar palavras, mocidade, inventos
No passo da ema, a volta da jurema, peneiro ê, iê, iê

Erguer a cabeça fora do pânico total
Telegrafar aos amigos da geral - PT saudações
É bom que você não se torne um marionete falante
De sexo, grafite e poesia
Política, som atuante, meditação, anarquia
Com a mesma filosofia de quem acha a vida pronta
No fim do novo ABC há o clarão da Bomba Z

Estrela e lua crescente, quero navegar inteiramente
Pela tua geografia escrever colorido
A palavra proibida
Vida, vida, vida, vida, vida
Vida, vida, vida, vida
Vida, vida, vida,

________________________

Análise de Duda Matta Silveira
Salvador / Bahia
(copia de post na comunidade orkut de Ednardo http://www.orkut.com/CommTopics.aspx?cmm=128653 )

Alfa Beta Ação... acho essa uma das mais sensacionais canções do inigualável Ednardo.
Sua letra é de uma profundidade e alcance abissais. Acho que ela vai muito além de ser "apenas" uma crítica ao ensino em salas de aula.
Na verdade, acho que ele critica a forma acadêmica de ver o mundo, critica também os valores passados e ensinados por todos os meios de informação e formação dos seres humanos, englobados aí professores, políticos, jornalistas, escritores, etc.

Claro que ele usa a metáfora da escola para passar sua mensagem, mas vejam que a música começa e termina com a exaltação da "palavra proibida": VIDA.
É a exaltação da escola da vida e da própria vida como a lição que realmente importa. Viver bem, ser feliz e livre. Viver, experimentar, sentir.

A letra também pode ser vista como um hino à liberdade e uma rebeldia contra as amarras e os conceitos dos regimes militares da época, utilizando a metáfora do ensino para tanto. Vejam o que ele fala do "velho mestre":
"Impõe, implora, impera e vocifera
É que ele tem a vara de condão
Da transformação, da conformação, da educação, da revolução
É que são tantos verbos de persuadir
De sujeitar o sujeito a não existir
É que são tantos objetos indiretos
Condicionais do porvir"
Quem é que tem a vara de condão da transformação, da conformação, da revolução e que busca persuadir e sujeitar as pessoas a não existirem? E quem condiciona o futuro (porvir)?
Sim, o Governo, as instituições públicas e a mídia. E tb a educação.
Depois, ele conclama todos a soltarem seu grito primal na hora do recreio (no intervalo da lavagem cerebral) e colocarem a cabeça para fora do lamaçal. Ousarem, inventarem, deixarem de ser marionetes falantes.
Assim, ele cria uma metáfora absurdamente genial da educação num sentido muito mais amplo de liberdade, senso crítico, romper padrões pré-estabelecidos. E termina usando a geografia para escrever a vida a cores.
É linda de chorar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Música no Curriculum Escolar

Excelente notícia!
Música no Curriculum Escolar. Começam a acordar pra esta necessidade básica que deve vir desde o início da escolaridade aos cursos médios e continuar nas universidades como especialização, tanto na área popular quanto erudita.

A música, alimento do espírito, do intelecto, do exercício da sensibilidade há muito tempo já devia ter sido expandida do mero palco da prática do pão e circo, do divertimento e lazer para tornar-se tão importante quanto o ensino das ciências exatas, experimentais, linguagens, informações e educações, físicas, religiosas, artes, tecnologias, etc.

Além do mais a música no currículo escolar começa a chamar atenção para uma depuração importante da qualidade do material criado pelas futuras gerações de músicos, compositores, autores, e professores que terão que se especializar em suas áreas.

Sem pretensão de ser didático, chamo atenção para exemplos básicos entre tantos outros que podemos citar, o que seria da longevidade dos Beatles sem George Martin, ou da Tropicália sem Rogério Duprat e Damiano Cozzella, maestros com embasamento de ensinamentos teóricos e práticos que forneceram grande riqueza às suas músicas.

Claro que isto não ofusca a criatividade original, o tônus vital de quem nasce com predicados próprios dos grandes artistas, mas é certo que abre outros horizontes para todos, tanto para os que realizam quanto para os que recebem o produto final.

Se esta medida tivesse vindo antes, talvez não tivéssemos o quadro dantesco da atualidade comandada apenas por interesses comerciais de departamentos de marketing e de mídia, mandando ver em grande parte o lixo musical para consumo, porque tanto os que comandam corporações do meio musical e mídia quanto o público seriam mais exigentes, teriam aprendido na escola que a música engloba quase tudo e é vital para o desenvolvimento humano como um todo.

Filosofia é de importância fundamental, é outra matéria que deveria constar no curriculum escolar no ensino médio principalmente, porque no superior já existem faculdades específicas.

É claro que música no curriculum escolar, não deve se tornar coisa tipo no governo (ditadura) de Getúlio Vargas, forçando todo mundo aprender "Canto Orfeônico" pelo método de Villas-Lobo, que embora genial não deveria ser o único, nem no modelo do tempo de outra ditadura militar meados dos anos 60, década de 70 aos meados da década de 80, trabalhando ferozmente para “limpar a mesa” alijando quase que duas ou três gerações dos meios de comunicação de massa, na tentativa de apagar a história dos fatos, da cultura, enfim das músicas e letras feitas durante este período.

A diversidade de ensino da música nas escolas realmente não pode ter ranço de quaisquer espécie. Melhor que seja no universo da música mundial, com atenção especial ao nosso terreiro, às nossas diversidades musicais a nossa brasilidade em conjunto com outras formas de manifestações musicais.

Pelas músicas de todas as partes do mundo, além de aprendermos idiomas, poesia, comportamentos e identidades de um povo, é veículo de transporte de uma infinidade de pensamentos e atitudes e sacações de insights, que os matemáticos em suas precisões admiráveis chamam de "Universo Bi-Univoco", para traduzir e expressar um ambiente no qual podemos entender e falar sobre nosso mundo e existência e cultura, no sentido maior das palavras mais plenas de significados.

A economia que envolve o fato musical é uma forma mundialmente reconhecida de movimentação considerável de fatores de riqueza, (não falo apenas do monetário), que atualmente entra no funil de remessa de lucros e dividendos de via única, envolve também fatores de transformação e criação de domínios muitos abrangentes.

Que tal podermos ter a oportunidade de que se ensine a nossa gente a trabalhar desde novo com esta ferramenta?

Quando uma das músicas mais ricas do planeta não é capaz, ainda, de gerar reconhecimento de forma mundial, como uma das fontes mais plenas de movimentação de valores agregados, nem no exterior, nem em nosso próprio pais, é sinal que algo deve ser feito para colocá-la na perspectiva de atuar como fator de mudanças.

A preocupação de muitos é que professores mal informados ou pouco formados ou tendenciosos manipulem ou negligenciem o importante espaço.

Mas vejo também por outros prismas, todos eles amplos. Um povo bem informado de sua cultura e arte, ao se ver no espelho e se respeitar, e se reconhecer, deixa de repetir outros modelos e assume sua própria identidade.
Música nas escolas com professores bem formados e informados com visão ampla, é tudo de bom.
Desta forma, até eu queria voltar pra escola com Nova-Mente.