sábado, 29 de setembro de 2007

Ednardo cantando - Saudação da Alegria


Ednardo cantando Saudação da Alegria de Calé Alencar. Música lançada no Balanço da Massa, durante três dias no Fortal (carnaval fora de época em Fortaleza), que balançou a massa em Julho 1995. No show - Do Pageú ao Papicú, realizado no Parque do Papicú em 13 de abril de 1997.

Saudação da Alegria
Calé Alencar

É no Balanço da Massa que eu vou
Saudação da alegria, meu amor
Brisa beija e balança
Abençoa a dança, só vai dar você

É no Balanço da Massa, que eu 'tou
Saudação da alegria, minha flor
Teu sorriso é tão lindo
É o sol se abrindo
Só vai dar você

Uô ô ô, vai, vai, vai
Meu amor, vai, vai, vai
Só vai dar você
Vai, vai, vai
Minha flor, vai, vai, vai
Só vai dar você

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Patativa do Assaré

Patativa do Assaré em entrevista realizada por Jackson Oliveira Bantim (Bola), enviada ao Zeca Zines através de Ednardo, trecho do documentário realizado por Bola enviado em 15/08/2003.

Nesta entrevista Patativa do Assaré, responde entrevista de Bola e recita duas poesias - Caboclo Roceiro e Menino de Rua.

Patativa do Assaré - Antonio Gonçalves da Silva - é um gênio e antena da raça, como fala Ezra Pound, estudado como fenômeno de comunicação popular com suas poesias e repentes, pela Universidade de Sorbonne na França, por Raymond Cantel, na cadeira da Literatura Popular Universal, e por Sylvie Debs em Literatura Comparada pela Universidade de Toulouse – França e outras Universidades de Praga e Moscou, Universidade de Poitiers – França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Inglaterra; e etc.
No Brasil, todas maiores universidades, USP; UFC; UFMG;UnB; UFPE; PUC/SP e muitas e muitas outras dedicam através de seus mestres e alunos, extensos estudos à Patativa do Assaré. Como símbolo emblemático deste bardo nordestino que possui em sua simplicidade o poder de comunicar-se com todas gamas de entendimento.

Sua arte somente ficou mais conhecida em Fortaleza, Nordeste e Brasil e Exterior, a partir de 1979 quando participou da Massafeira Livre, à convite de Ednardo, quando foi gravado seu primeiro disco. Até então Patativa era ilustre desconhecido em sua própria terra o Ceará, e o mundo não sabia de sua existência.
A partir da Massafeira, Patativa passou a ser reconhecido por todos, e seus versos amplificados em livros, estudos e teses e também musicados e cantados por muitos artistas.
Vale lembrar que antes, Luiz Gonzaga , musicou um de seus versos – Triste Partida - E depois da Massafeira, outros artistas foram musicando e cantando sua obra, e obteve atenção dos estudiosos sobre sua obra.

Zeca Zines

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Patativa do Assaré - nasceu aos 5 de março de 1909, em Assaré (CE) e aí morreu aos 8 de julho de 2002. Iniciou o seu contato com a poesia a partir das cantorias, (destas herdou a diversidade temática, o jogo mote & glosa, as pelejas, o gosto pela redondilha, na métrica; e por sextilhas, quadras ou décimas, na estrofe); depois, realizou folhetos; por fim, o cordel e os poemas avulsos.

O discurso poético de Patativa insere-se na tradição oral, ainda que não se apresente como um repentista, mas, sim, como um poeta, cujos versos nos chegam a partir da palavra impressa. Essencialmente telúrico, sua poesia brota da terra agreste, e esta lhe fornece elementos recorrentes, extraídos tanto do homem quanto da paisagem.
A pouca escolaridade, (ele freqüentou apenas seis meses de escola, onde aprendeu a ler e a escrever) não lhe impediu de ser um leitor voraz, uma vez que, a rigor, tornou-se um autodidata.
Para a construção de seu arcabouço poético, leu não apenas o ´Tratado de Versificação´, de Olavo Bilac, bem como a poesia romântica brasileira, em especial Castro Alves (fundamental para a sua consciência da poesia como discurso engajado) e Gonçalves Dias (este, um poeta que palmilha o épico e o telúrico).
Ainda que haja desenvolvido diversos metros e muitas modalidades poéticas, nesse livro ´Cordéis e Outros Poemas´, serve-se, em relação à disposição das estrofes, das sextilhas (agrupamento de seis versos) e das décimas (agrupamentos de dez versos), havendo, também, o emprego das oitavas (agrupamentos de oito versos); e a métrica é, predominantemente, a redondilha maior ou heptassílabos (versos com sete sílabas poéticas) e, em menor escala, a redondilha menor ou pentassílabos (versos de cinco sílabas poéticas).

Sua poesia é oral, tendo, assim, raízes nas experiências primitivas, desembocando nas cantorias, desafios e provocações de motes.
A denominação ´Literatura de cordel´ tem sua origem em Portugal; mas, no Brasil, tem a ver com a composição de folhetos impressos - experiência genuinamente nordestina. O cordel é uma narrativa poética , cuja temática se apresenta por demais diversificada, enveredando pela épica, pela lírica, pelo dramático, pelo burlesco, pelo grotesco, pela caricatura, podendo tanto concentrar-se em motivos realistas quanto nos gêneros maravilhoso, fantástico ou estranho.

O ABC, por sua vez, é uma narrativa, (´ABC do Nordeste Flagelado´ - este em décima e em redondilha maior) em que de A a Z, cada estrofe tem início com a seqüência das letras do alfabeto.
Mote é uma estrofe anteposta ao início de um poema, utilizado pelos poetas como motivo da obra cujo conteúdo desenvolve a idéia sugerida pela estrofe; pode ser um adágio, uma sentença, sendo o ponto de partida para o desenvolvimento de uma temática; em síntese, é um conceito, expresso, em geral, num dístico para ser glosado.
Glosa é uma décima (estrofe de dez versos) às quais servem de mote os quatro versos de uma quadra ou de um dístico; -estes dísticos devem estar contidos na décima.
Assim, a glosa é uma composição poética que desenvolve um mote; classicamente, é uma décima única onde se inclui o mote de um ou de dois versos poéticos.
Sua poesia implica o encontro entre o homem e a terra, estando estes de tal modo intrincados que, em verdade, não é possível compreendê-los separadamente. Sua voz canta a natureza rústica, agreste, mas, ao mesmo tempo, bela, encantadora, entranhada na vivência e na memória do poeta. A linguagem, pois, emana dessa terra; desse modo, anuncia-se com a espontaneidade da fala matuta, com o forte acento na vogal no final dos versos.


Trecho de matéria Diário do Nordeste - Fortaleza - Ceará - 30/09/2007
Carlos Augusto Viana

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Ednardo cantando A Manga Rosa

Ednardo cantando A Manga Rosa
O disco com essa música, passou 8 meses emperrado pela censura federal que proibiu lançamento do disco todo.
Em temporada de quatro dias, Teatro Estação Beira Mar - Espaço Cultural do Museu do Telephone, uma senhora foi todos os dias e sentava-se na primeira fila cantando as músicas com entusiasmo, no terceiro dia ela foi ao camarim e se identificou – “Meu filho, sou a Lourdes da censura federal, fui eu que proibi seu disco, e agora estou vendo a beleza de música e poesia, vim aqui para que você perdoasse e entendesse que eu era funcionária pública e recebia ordens”....
No dia seguinte, Ednardo, após saber que ela estava de novo na platéia, deu o troco com categoria estonteante e dedicou a música à antes censora e agora fã.... veja o restante da história...

A Manga Rosa
(Ednardo)

A manga Rosa
Maria, Rosa
Rosa, Maria, Joana
Peitos gostosos, rosados doces
Rosados doces, mama, mama, mamãe
Teu sumo escorre da minha boca
Entreaberta porta por onde entra, por onde sai
Por onde entra e sai o mundo
Mundo
Balança a fronde farta mangueira
E mata a fome, morto a fome
Ou mata, imensa mata
Imensa massa, florados cachos
De verde, amarelou, maduro fruto
Que pro nosso gozo vem
Amem, amem, amem, amem
Mamem, mamem, mamem
Amém, amém, amém, amém

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ednardo cantando Única Pessoa

Ednardo cantando Única Pessoa (Ednardo e Chico César), show do Pageú ao Papicu, Fortaleza 13 de abril de 1997.

Única Pessoa
(Ednardo e Chico César)

Parece que me conheço
Tempo tamanho viver
Toda pessoa em tí, brilho, beleza e fala
Amigo antigo de ter
Par esse no mesmo manto
Sempre aquí, ontem e depois
Olhos de alcance infindo
No preto e branco há cor
Música, silêncio, palavras

Iê planta, asfalto, iê flor
Plural, única pessoa
Tudo de sí e de sou

Parece que tudo passa
Por tudo que é praça e gente
Pelo fio da esperança
Pelo pé na corda bamba
Igual e tão diferente
Parece que tudo fica
Tudo muda, musa tudo
E eu que bem me ví menino
Na panela iridecente
Mão de música, luz e loa

Iê planta, asfalto, iê flor
Plural, única pessoa
Tudo de sí e de sou

Ednardo cantando Mucuripe

Ednardo cantando Mucuripe (Fagner e Belchior) show Do Pageú ao Papicu, Fortaleza 13 de abril de 1997.

Mucuripe
(Fagner e Belchior)

As velas do Mucuripe vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas pras águas fundas do mar
Hoje a noite namorar, sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar
Calça nova de riscado, paletó de linho branco
Que até o mês passado, lá no campo ainda era flor
Sob o meu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De rapaz novo e encantado de vinte anos de amor

Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela leva-me daqui

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Música das nuvens e do chão



Pra completar esta trilogia de músicos: Hermeto Paschoal, Theo de Barros, Heraldo do Monte, que achamos geniais, Zeca Zines, reproduz recente artigo da jornalista Eleuda de Carvalho - Jornal O Povo - Coluna Periférica 11 / 09 / 2007 http://www.opovo.com.br/colunas/periferica/727717.html




Por ser albino, o pequeno Hermeto ficava enfiado em casa, espiando as réstias de luz pelo buraco da telha e escutando os sons que vinham de fora, era barulho de cabra, era pio de passarinho, eram as rodas do carro de boi, cantando na estrada.
Os pais e os outros manos de sol a sol colhendo a vida, do que a terra dava - lá em Lagoa da Canoa, município de Arapiraca.
A terra do fumo, nas Alagoas. Foi ali que o bruxo sem cor nasceu.
Cresceu, e foi embora, tocando um instrumento. Primeiro, a sanfona, tão querida dos sertanejos. E as flautas-pífanos. Violão. Harmônio. Piano. Queria mais. Hermeto Paschoal faz música com tudo.
Panela, chocalho, patinho de borracha, apitos de feira, atiradeira, o diabo a mil. Um dos seus melhores discos: Cérebro Magnético. O LP (não sei se já tem em CD) inclui composições como Música das Nuvens e do Chão, linda demais, suave, mágica. E tem uma, bem curtinha, Correu Tanto Que Sumiu. E a música é isso mesmo, uma coisinha apressada, aperreada que, de repente, chega ao fim. Legal demais!
Assim como Ilza na Feijoada e Spock na Escada, as duas de outro disco, esqueci o nome agora. Ilza foi a primeira esposa de Hermeto, uma mulata fornida, que deveria preparar feijoadas deliciosas. E Spock, um dos cachorros do artista. Entre volutas de pianola e uns sopros de flautim, o cachorro latindo na escada...
Certa vez, num festival de música no Crato, começo dos anos 90. No palco, Hermeto Paschoal em muito boa companhia. Além dos feras que trabalham com ele, o mago botou pra tocar junto, ali, na hora e sem frescura de ensaio, uma dupla de emboladores, visivelmente truviscados, e os incríveis Irmãos Aniceto, batendo caixa, os pifes sonorosos, a mão de agricultor percutindo firme e forte a pele tesa do zabumba, eles trocando os pés, no seu balé inimitável.
E Hermeto soprando uma chaleira velha cheia dágua, passeando pelo palco, seguido dos Anicetos e dos emboladores, aspergindo os que estavam na borda do palco com a água e o cuspe misturados no bico da chaleira. Eita, mundo bom! Eita, danado!

Eleuda de Carvalho

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Pra refletir

BOI DE HAXIXE
Zeca Baleiro


Quando piso em flores
Flores de todas as cores
Vermelho sangue, verde oliva, azul colonial
Me dá vontade de voar sobre o planeta
Sem ter medo da careta
Na cara do temporal

Desembainho a minha espada cintilante
Cravejada de brilhantes, peixe espada vou pro mar
O amor me veste
Com o terno da beleza
E o saloom da natureza
Abre as portas pra eu dançar

Diz o que tu quer
Eu dou
Se tu quer que eu vá
Eu vou

Meu bem, meu bem me quer
Te dou meu pé, meu não
Um céu cheio de estrelas
Feitas com caneta bic
Num papel de pão

Zeca Zines indica pra refletir, sobre as jóias embaladas em papel de pão, ouvir duas gravações desta música - com Zeca Baleiro no disco "Vô Imbolá" faixa 10, e outra interpretação com a excelente Ceumar - no disco Dindinha, faixa 07.

Jóias raras em embalagens de papelão






Há problemas que são universais e, definitivamente não são exclusivos do Brasil. Mas aqui a coisa é pior que no chamado “mundo civilizado”.As grandes gravadoras não possuem interesse de relançar em CD grandes obras por questões de mercado (leia-se, grande volume de vendas que mantenham uma saudável margem de lucros e ainda compensem a maldita pirataria). De vez em quando aparece algo surpreendente. A excelente e heróica gravadora TRAMA lançou pelo selo ELDORADO duas preciosidades que ainda não haviam sido convertidas (oficialmente) do vinil para o CD. Trata-se o disco “PRIMEIRO DISCO” do lendário cantor, diretor, arranjador e músico THEO DE BARROS)”.

Este carioca filho do compositor alagoano Teófilo de Barros Filho compôs sua primeira canção ainda na adolescência e com 19 anos já tinha duas músicas interpretadas por Alaíde Costa, "Natureza" e "Igrejinha". Somente em 1980, 15 anos após enorme sucesso das músicas "Menino das Laranjas" e “Disparada” (esta última em parceria com Geraldo Vandré) nas vozes de Elis Regina e do sambista Jair Rodrigues, respectivamente, é que Theo gravou seu primeiro LP, o álbum duplo PRIMEIRO DISCO.
O disco, consistente e extremamente bem arranjado, traz pérolas com a interpretação particular de Theo para “Disparada” e “Menino das Laranjas” além de incursões instrumentais beirando a perfeição como “Estória” que o compositor assina em parceria com Paulo César Pinheiro. Theo mostra, com grande mestria, seu lado romântico em “Ando te Amando Tanto” também em parceria com Paulo César.
O segundo disco ora lançado pela TRAMA-ELDORADO foi igualmente editado pela primeira vez em CD cuja data do lançamento em vinil coincide com o disco do Theo, 1980; trata-se do trabalho do músico Pernambucano HERALDO DO MONTE, cujo título leva seu nome e coincidentemente é o seu primeiro disco solo.

Heraldo iniciou sua carreira profissional em Recife, acompanhando cantores em boates. Ainda nos anos 60, teve trabalhos seus gravados por artistas como Walter Wanderley e Dolores Duran. Fez parte, ao lado de Airto Moreira e Theo, do Trio Novo, ao qual Hermeto Pascoal viria a se juntar, formando o Quarteto Novo, com o qual gravou, em 1967, o LP "Quarteto Novo", lançado pela Odeon. Virtuose da viola caipira, cavaquinho, violão e guitarra, foi um dos responsáveis pela introdução da
Improvisação (típica do jazz americano) na Música Popular Brasileira. Esta levada é bastante latente na faixa que abre o disco “Forrozin”. O disco conta com a participação, entre outros, de Dominguinhos e Hermeto Paschoal este último com vocais, órgão e flauta. Heraldo ainda paga um tributo ao mestre Pixinguinha com a belíssima faixa “Lamentos” que o chorão fez em parceria com Vinicius de Moraes. Os elementos nordestinos estão pressente no frevo “Chuva Morna” e na magistral releitura de “Pau de Arara” de autoria de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes.
Os dois lançamentos da TRAMA-ELDORADO são jóias da nossa MPB. Contudo, como disse no início deste texto, as coisas no Brasil, em relação a nossa memória. Enquanto os lançamentos de grandes nomes da musica internacional são lançados no exterior (em especial na Europa e Ásia) com requintes e consideração, os discos de Theo e Heraldo são de uma pauperrísse assustadora. Começa pele encarte. O disco do Theo sequer tem referências aos músicos e demais profissionais que participam do trabalho; esta referência existe no disco do Heraldo porque na capa traseira do LP haviam estas referências e como o material foi copiado na íntegra pelo menos se sabe quais foram os músicos que participaram do disco. Salvam-se os textos dos jornalistas e pesquisadores Eduardo Magossi e Wilson Meneses da Hora. Mas o pior não está nos encartes.
Não tenho notícia de uma qualidade de áudio tão ruim quanto a que está presente nestes trabalhos.
Não sei o que houve, mas a impressão que dá é que se está ouvindo um disco de vinil arranhado em uma daquelas antigas vitrolinhas a pilha com o autofalante furado. Mérito à parte pela recuperação destes dois discos maravilhosos, os mesmos não mereciam um acabamento (áudio e gráfico) tão aquém da grandiosidade e importância destas duas obras. São verdadeiras jóias envolvidas não em estojos dignas do seu valor, mas em verdadeiras caixas de papelão de terceira qualidade.

Post enviado por Antonio Inácio dos Santos Júnior.