Patativa do Assaré em entrevista realizada por Jackson Oliveira Bantim (Bola), enviada ao Zeca Zines através de Ednardo, trecho do documentário realizado por Bola enviado em 15/08/2003.
Nesta entrevista Patativa do Assaré, responde entrevista de Bola e recita duas poesias - Caboclo Roceiro e Menino de Rua.
Patativa do Assaré - Antonio Gonçalves da Silva - é um gênio e antena da raça, como fala Ezra Pound, estudado como fenômeno de comunicação popular com suas poesias e repentes, pela Universidade de Sorbonne na França, por Raymond Cantel, na cadeira da Literatura Popular Universal, e por Sylvie Debs em Literatura Comparada pela Universidade de Toulouse – França e outras Universidades de Praga e Moscou, Universidade de Poitiers – França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Inglaterra; e etc.
No Brasil, todas maiores universidades, USP; UFC; UFMG;UnB; UFPE; PUC/SP e muitas e muitas outras dedicam através de seus mestres e alunos, extensos estudos à Patativa do Assaré. Como símbolo emblemático deste bardo nordestino que possui em sua simplicidade o poder de comunicar-se com todas gamas de entendimento.
Sua arte somente ficou mais conhecida em Fortaleza, Nordeste e Brasil e Exterior, a partir de 1979 quando participou da Massafeira Livre, à convite de Ednardo, quando foi gravado seu primeiro disco. Até então Patativa era ilustre desconhecido em sua própria terra o Ceará, e o mundo não sabia de sua existência.
A partir da Massafeira, Patativa passou a ser reconhecido por todos, e seus versos amplificados em livros, estudos e teses e também musicados e cantados por muitos artistas.
Vale lembrar que antes, Luiz Gonzaga , musicou um de seus versos – Triste Partida - E depois da Massafeira, outros artistas foram musicando e cantando sua obra, e obteve atenção dos estudiosos sobre sua obra.
Zeca Zines
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Patativa do Assaré - nasceu aos 5 de março de 1909, em Assaré (CE) e aí morreu aos 8 de julho de 2002. Iniciou o seu contato com a poesia a partir das cantorias, (destas herdou a diversidade temática, o jogo mote & glosa, as pelejas, o gosto pela redondilha, na métrica; e por sextilhas, quadras ou décimas, na estrofe); depois, realizou folhetos; por fim, o cordel e os poemas avulsos.
O discurso poético de Patativa insere-se na tradição oral, ainda que não se apresente como um repentista, mas, sim, como um poeta, cujos versos nos chegam a partir da palavra impressa. Essencialmente telúrico, sua poesia brota da terra agreste, e esta lhe fornece elementos recorrentes, extraídos tanto do homem quanto da paisagem.
A pouca escolaridade, (ele freqüentou apenas seis meses de escola, onde aprendeu a ler e a escrever) não lhe impediu de ser um leitor voraz, uma vez que, a rigor, tornou-se um autodidata.
Para a construção de seu arcabouço poético, leu não apenas o ´Tratado de Versificação´, de Olavo Bilac, bem como a poesia romântica brasileira, em especial Castro Alves (fundamental para a sua consciência da poesia como discurso engajado) e Gonçalves Dias (este, um poeta que palmilha o épico e o telúrico).
Ainda que haja desenvolvido diversos metros e muitas modalidades poéticas, nesse livro ´Cordéis e Outros Poemas´, serve-se, em relação à disposição das estrofes, das sextilhas (agrupamento de seis versos) e das décimas (agrupamentos de dez versos), havendo, também, o emprego das oitavas (agrupamentos de oito versos); e a métrica é, predominantemente, a redondilha maior ou heptassílabos (versos com sete sílabas poéticas) e, em menor escala, a redondilha menor ou pentassílabos (versos de cinco sílabas poéticas).
Sua poesia é oral, tendo, assim, raízes nas experiências primitivas, desembocando nas cantorias, desafios e provocações de motes.
A denominação ´Literatura de cordel´ tem sua origem em Portugal; mas, no Brasil, tem a ver com a composição de folhetos impressos - experiência genuinamente nordestina. O cordel é uma narrativa poética , cuja temática se apresenta por demais diversificada, enveredando pela épica, pela lírica, pelo dramático, pelo burlesco, pelo grotesco, pela caricatura, podendo tanto concentrar-se em motivos realistas quanto nos gêneros maravilhoso, fantástico ou estranho.
O ABC, por sua vez, é uma narrativa, (´ABC do Nordeste Flagelado´ - este em décima e em redondilha maior) em que de A a Z, cada estrofe tem início com a seqüência das letras do alfabeto.
Mote é uma estrofe anteposta ao início de um poema, utilizado pelos poetas como motivo da obra cujo conteúdo desenvolve a idéia sugerida pela estrofe; pode ser um adágio, uma sentença, sendo o ponto de partida para o desenvolvimento de uma temática; em síntese, é um conceito, expresso, em geral, num dístico para ser glosado.
Glosa é uma décima (estrofe de dez versos) às quais servem de mote os quatro versos de uma quadra ou de um dístico; -estes dísticos devem estar contidos na décima.
Assim, a glosa é uma composição poética que desenvolve um mote; classicamente, é uma décima única onde se inclui o mote de um ou de dois versos poéticos.
Sua poesia implica o encontro entre o homem e a terra, estando estes de tal modo intrincados que, em verdade, não é possível compreendê-los separadamente. Sua voz canta a natureza rústica, agreste, mas, ao mesmo tempo, bela, encantadora, entranhada na vivência e na memória do poeta. A linguagem, pois, emana dessa terra; desse modo, anuncia-se com a espontaneidade da fala matuta, com o forte acento na vogal no final dos versos.
Trecho de matéria Diário do Nordeste - Fortaleza - Ceará - 30/09/2007
Carlos Augusto Viana
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