quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Patativa do Assaré

Patativa do Assaré em entrevista realizada por Jackson Oliveira Bantim (Bola), enviada ao Zeca Zines através de Ednardo, trecho do documentário realizado por Bola enviado em 15/08/2003.

Nesta entrevista Patativa do Assaré, responde entrevista de Bola e recita duas poesias - Caboclo Roceiro e Menino de Rua.

Patativa do Assaré - Antonio Gonçalves da Silva - é um gênio e antena da raça, como fala Ezra Pound, estudado como fenômeno de comunicação popular com suas poesias e repentes, pela Universidade de Sorbonne na França, por Raymond Cantel, na cadeira da Literatura Popular Universal, e por Sylvie Debs em Literatura Comparada pela Universidade de Toulouse – França e outras Universidades de Praga e Moscou, Universidade de Poitiers – França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Inglaterra; e etc.
No Brasil, todas maiores universidades, USP; UFC; UFMG;UnB; UFPE; PUC/SP e muitas e muitas outras dedicam através de seus mestres e alunos, extensos estudos à Patativa do Assaré. Como símbolo emblemático deste bardo nordestino que possui em sua simplicidade o poder de comunicar-se com todas gamas de entendimento.

Sua arte somente ficou mais conhecida em Fortaleza, Nordeste e Brasil e Exterior, a partir de 1979 quando participou da Massafeira Livre, à convite de Ednardo, quando foi gravado seu primeiro disco. Até então Patativa era ilustre desconhecido em sua própria terra o Ceará, e o mundo não sabia de sua existência.
A partir da Massafeira, Patativa passou a ser reconhecido por todos, e seus versos amplificados em livros, estudos e teses e também musicados e cantados por muitos artistas.
Vale lembrar que antes, Luiz Gonzaga , musicou um de seus versos – Triste Partida - E depois da Massafeira, outros artistas foram musicando e cantando sua obra, e obteve atenção dos estudiosos sobre sua obra.

Zeca Zines

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Patativa do Assaré - nasceu aos 5 de março de 1909, em Assaré (CE) e aí morreu aos 8 de julho de 2002. Iniciou o seu contato com a poesia a partir das cantorias, (destas herdou a diversidade temática, o jogo mote & glosa, as pelejas, o gosto pela redondilha, na métrica; e por sextilhas, quadras ou décimas, na estrofe); depois, realizou folhetos; por fim, o cordel e os poemas avulsos.

O discurso poético de Patativa insere-se na tradição oral, ainda que não se apresente como um repentista, mas, sim, como um poeta, cujos versos nos chegam a partir da palavra impressa. Essencialmente telúrico, sua poesia brota da terra agreste, e esta lhe fornece elementos recorrentes, extraídos tanto do homem quanto da paisagem.
A pouca escolaridade, (ele freqüentou apenas seis meses de escola, onde aprendeu a ler e a escrever) não lhe impediu de ser um leitor voraz, uma vez que, a rigor, tornou-se um autodidata.
Para a construção de seu arcabouço poético, leu não apenas o ´Tratado de Versificação´, de Olavo Bilac, bem como a poesia romântica brasileira, em especial Castro Alves (fundamental para a sua consciência da poesia como discurso engajado) e Gonçalves Dias (este, um poeta que palmilha o épico e o telúrico).
Ainda que haja desenvolvido diversos metros e muitas modalidades poéticas, nesse livro ´Cordéis e Outros Poemas´, serve-se, em relação à disposição das estrofes, das sextilhas (agrupamento de seis versos) e das décimas (agrupamentos de dez versos), havendo, também, o emprego das oitavas (agrupamentos de oito versos); e a métrica é, predominantemente, a redondilha maior ou heptassílabos (versos com sete sílabas poéticas) e, em menor escala, a redondilha menor ou pentassílabos (versos de cinco sílabas poéticas).

Sua poesia é oral, tendo, assim, raízes nas experiências primitivas, desembocando nas cantorias, desafios e provocações de motes.
A denominação ´Literatura de cordel´ tem sua origem em Portugal; mas, no Brasil, tem a ver com a composição de folhetos impressos - experiência genuinamente nordestina. O cordel é uma narrativa poética , cuja temática se apresenta por demais diversificada, enveredando pela épica, pela lírica, pelo dramático, pelo burlesco, pelo grotesco, pela caricatura, podendo tanto concentrar-se em motivos realistas quanto nos gêneros maravilhoso, fantástico ou estranho.

O ABC, por sua vez, é uma narrativa, (´ABC do Nordeste Flagelado´ - este em décima e em redondilha maior) em que de A a Z, cada estrofe tem início com a seqüência das letras do alfabeto.
Mote é uma estrofe anteposta ao início de um poema, utilizado pelos poetas como motivo da obra cujo conteúdo desenvolve a idéia sugerida pela estrofe; pode ser um adágio, uma sentença, sendo o ponto de partida para o desenvolvimento de uma temática; em síntese, é um conceito, expresso, em geral, num dístico para ser glosado.
Glosa é uma décima (estrofe de dez versos) às quais servem de mote os quatro versos de uma quadra ou de um dístico; -estes dísticos devem estar contidos na décima.
Assim, a glosa é uma composição poética que desenvolve um mote; classicamente, é uma décima única onde se inclui o mote de um ou de dois versos poéticos.
Sua poesia implica o encontro entre o homem e a terra, estando estes de tal modo intrincados que, em verdade, não é possível compreendê-los separadamente. Sua voz canta a natureza rústica, agreste, mas, ao mesmo tempo, bela, encantadora, entranhada na vivência e na memória do poeta. A linguagem, pois, emana dessa terra; desse modo, anuncia-se com a espontaneidade da fala matuta, com o forte acento na vogal no final dos versos.


Trecho de matéria Diário do Nordeste - Fortaleza - Ceará - 30/09/2007
Carlos Augusto Viana

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