quinta-feira, 5 de março de 2009

100 Anos de Patativa do Assaré

Hoje, 5 de março, o poeta Patativa do Assaré completaria 100 anos.

A terra e o homem sertanejo transfigurados em poesia pôs o sertão cantado no centro dos temas políticos cruciais para o Brasil, no secúlo XX. “Sobre política eu faço é ironia, é crítica”.
A frase está registrada no livro Patativa, poeta pássaro do Assaré, do pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará, Gilmar de Carvalho.

Quase quatro década antes, Patativa deixara escrito na autobiografia que escreveu para o livro Inspiração Nordestina, em 1956: “Não tenho tendência política, sou apenas um revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da política falsa, que continha muito fora do programa da verdadeira democracia”.

Mesmo sem partido, Patativa do Assaré foi um poeta engajado do seu jeito. Não teve causa social a partir dos anos 60 do século XX que Patativa não tivesse tratado em sua poesia. Cantou a reforma agrária muito antes de se ligar a militantes das Ligas Camponesas e de surgir o Movimento dos Sem Terra, fez versos contra a ditadura militar e pelas Diretas Já.

E foi, sim, o maior cantador das desigualdades sociais do Brasil. O realismo dos versos não embelezaram a feiura da pobreza que até hoje assola bolsões nos centros urbanos e rurais.


POÉTICA DA LIBERDADE
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/860567.html

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Brasi de Cima e Brasi de Baxo
(Trecho)

(Cante lá que eu canto cá)


Meu compadre Zé Fulô,
Meu amigo e companhêro,
Quage um ano que eu tou
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Cariri
Maginando que isto aqui
Era uma terra de sorte,
Mas fique sabendo tu
Que a miséra aqui no Su
É a mesma do Norte

Tudo o que procuro acho.
Eu pude vê neste crima,
Que tem o Brasi de baxo
E tem o Brasi de Cima
Brasi de Baxo, coitado!
É um pobre abandonado;
O de cima tem cartaz,
Um do ôtro é bem deferente:
Brasi de Cima é pra frente,
Brasi de Baxo é pra trás

Aqui no Brasi de Cima,
Não há dô nem indigença,
Reina o mais soave crima
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasil de Baxo
Sofre a feme e sofre o macho
A mais dura privação.

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