domingo, 4 de abril de 2010

O Pavão Volta a Voar

Transcrito do Jornal Diário do Nordeste - Fortaleza 25 de março de 2010.
Repórter - Síria Mapurunga

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"O Romance do Pavão Mysterioso" (1974), disco de Ednardo, ganha reedição da Sony, em pesquisa de Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs.

Uma história do tempo em que, falando de começos, a música cearense alçou os primeiros voos para além dos horizontes alencarinos. "O Romance do Pavão Mysterioso" (1974), de Ednardo, agora relançado em CD pela Sony Music, é de todo comemorado por quem gosta da música daqui.
Nem ele sabia da "surpresa", pois, no momento, dedicava-se a outro projeto da mesma gravadora: CD e livro sobre a Massafeira. "Esse deve ser lançado lá pelo mês de maio, junho. Estou aqui em Fortaleza justamente para sinalizar isso.

A notícia do relançamento do ´Pavão´ tive durante uma reunião com os produtores", conta.Com a beleza de ver as duas "alegrias" lançadas no mesmo ano, Ednardo liga, logo de cara, "Pavão" à importância de ter sido seu primeiro disco solo, com o qual abriram-se as portas para o Sudeste.

O anterior foi "Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem", com Rodger e Téti, um ano antes, 1973."
´Pavão´ foi um disco inaugural de certa forma. Considero representativo de minha carreira porque é um cordel urbano.

Fala das memórias, uma história que eu poderia dizer quase abrangente da nossa saga cearense, essa nossa dedicação à música, às artes".
Com um exemplar em mãos do CD, reeditado por Charles Gavin (ex-baterista dos Titãs), o cantor e compositor descreve a simplicidade do projeto, que não vem com todos os encartes do original, nem as letras das músicas.

"Com essa coisa da internet, é muito fácil ter acesso a elas". Mas o "bacana" mesmo, que ele anuncia, é o preço acessível. "Assim, quem pegaria no camelô, pode comprar o original mais barato".
Shows, agora, só em maio, durante a Virada Cultural, em São Paulo. Depois disso, promete apresentação aqui, em comemoração ao relançamento de "Pavão".

Disco histórico.

Entre canções do passado, período de dura repressão militar, as 12 músicas do CD trazem parcerias "importantíssimas" com o "Pessoal do Ceará", como Augusto Pontes, Tânia Cabral, Fausto Nilo, Belchior (este, compositor só, em "A Palo Seco") e Brandão.

"Nesse disco, pela primeira vez foi cantada "Dorothy L´amour", do Fausto. Lancei para o Brasil", conta.Se de sentimento nostálgico, é o que se vislumbra nas letras, como em "E sem querer então eu esquecia/ Que já não temos tempo pra sonhar", de "Ausência", já Ednardo não vê tristeza na temática.

"Aquela era uma época de saída, quando fui embora do Ceará. É sentimento de quem já tem uma posição, de quem chegou num local e tem o que dizer. Não era tristeza, era a realidade, retrato da ditadura", avalia.

Bem representativo é "Carneiro", que mostra a face da esperança, de um rumo outro, desconhecido ainda por ele e a sua geração. "Amanhã se der o carneiro/ O carneiro/ Vou m´imbora daqui pro Rio de Janeiro/ As coisas vêm de lá/ Eu mesmo vou buscar"."As pessoas se referem a ´Pavão´, por causa da música, quando passei a ser conhecido nacional e internacionalmente, mas esse é um disco que conta uma história completa mesmo. Começa com o "Carneiro", da vontade de sair de um lugar e expandir nossa arte", descreve.E termina, com o perdão da interpretação, em outro bicho, da terra ao ar, o pavão, contendo aquilo que ele fala no texto do disco original: "porque o começo de cada coisa já contém o seu fim". Ao pássaro, Ednardo pede na música (que lhe tornou conhecido por conta da abertura da novela "Saramandaia", de 1976), no afã de viver tudo que ainda teria pela frente: "Me guarda moleque de eterno brincar/ Me poupa do vexame de morrer tão moço/ Muita coisa ainda quero olhar".

Do parceiro (Fausto Nilo)

Junto a "Manera fru fru, manera", de Fagner, ´Pavão´, pensa Fausto Nilo, representam os dois discos fundamentais para o Pessoal do Ceará.
É o início do que ele chama de "uma etapa mais profissional da música cearense", além de "ser um disco excelente artisticamente".
"Foi quando gravei minhas primeiras composições e também a única que tenho com Ednardo: ´Trem do interior´", conta.A música, lembra-se bem, foi do tempo em que morava em Brasília. "É do mesmo ano, acho que 72, quando fiz ´Fim do Mundo´,com Fagner. Meses depois, veio ´Dorothy Lamour´ e ´Trem do Interior´".

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